Voto sem azar!

(*) Guilherme Athayde Ribeiro Franco

Na cidade na qual moro [minha pátria começa na minha calçada], tenho de conviver não só com a poluição do ar [agravada pelas queimadas e pelo tempo seco], como também suportar a intoxicação visual de painéis luminosos que sinalizam verdadeiras “avenidas do azar”.

Refiro-me aos pontos de ônibus movidos a propaganda desenfreada das tais “bets”/casas de apostas virtuais, nas mais das vezes, associadas ao desporto.

Enquanto se espera o coletivo, ao invés de mensagens educativas nesses painéis, algo simples como “hidrate-se”!, há em meio a anúncios diversos, e com grande insistência, afora o não menos danoso marketing de bebida alcoólica [cervejas e destilados… e já nas primeiras horas da manhã, que deveriam ser dedicadas a uma boa alimentação], a armadilha para que ali mesmo, do celular, ingresse-se no traiçoeiro universo dos jogos de azar.

Que são jogos de fortuna [eufemismo criado nestes dias de valores liquefeitos] somente para o dono da banca. E causam malefícios incontáveis/irreparáveis aos dependentes, famílias, empresas e aos cofres públicos.
A ponto do Banco Central do Brasil, o guardião do nosso tesouro monetário, alertar que: a jogatina dilacera a renda dos mais vulneráveis e arrasa o PIB nacional!

Este o cenário epidêmico: ansiedade, depressão, suicídios, “gatilho” para a violência doméstica e familiar; e a conta nunca fechará em benefício do apostador e de toda uma nação negligenciada e de reconhecidas misérias.

Os predadores [e não empreendedores] das “bets” e afins não têm outro propósito, senão o de fisgar o cérebro de crianças, adolescentes e jovens - e cativar doentios consumidores desde cedo.

E/ou sugar até a última gota o leite que deveria estar na cesta básica de um país com históricas inseguranças alimentares.

Toda essa tragédia [que hoje ocupa a mídia — e que paradoxalmente coloca anúncio de “bet” até em debate eleitoral] há tempos foi prevista por diversos pesquisadores da matéria, alicerçados na Ciência da Prevenção; e que não jogam sujo como “cientistas” que têm notórios conflitos de interesse com a Cassinobrás.

E é, ao que tudo indica, apenas o primeiro passo em direção a um despenhadeiro sem volta - com vistas à legalização dos bingos e cassinos [que irão funcionar inclusive em navios de cruzeiro pelos rios da região amazônica!].

Com salas reservadas a fumantes [olha os “vapes” saborizados, aromatizados e explosivos] e desregrado consumo de bebida alcoólica - maldosamente se ampliando as dependências e fatores de risco de doenças pulmonares, câncer e tantas outras relacionadas aos fumígenos e ao álcool.

Levando de venenoso brinde — não bastasse o poço sem fundo do endividamento e dos prejuízos à saúde da nossa gente — uma canastra de lavagem de dinheiro, prostituição, tráfico de pessoas, armas, drogas, bichos, ouro e pedras preciosas...

Neste pleito eleitoral que ocorrerá nesta Primavera [estamos doentes e esquecidos de celebrar a vida? como me chamou a atenção um primo querido], lembremos respeitosa e democraticamente aos candidatos, do solene compromisso que têm, pela Constituição da República, de construir um Brasil justo, protetivo às presentes e futuras gerações, com erradicação da pobreza.

P.S.   #voto-sem-bets       #diga-não-à-legalização-dos-cassinos-e-bingos

(*) Promotor de Justiça em Campinas/SP -  Especialista em Dependência Química (UNIAD/UNIFESP) -  Associado da  APMP  e da ABEAD.

Amata, em 30/09/2024.