Fumo divide espaço com novas culturas

A partir da Convenção Quadro, governo impulsiona projetos

JULIANA BUBLITZ

Frente à onda antitabagista no mundo, fumicultores do Vale do Rio Pardo, principal região produtora de fumo do Estado, começam a alterar a fisionomia de suas terras. A busca pela diversificação não significa a substituição do tabaco, que continua sendo o grande motor da economia regional.

Conforme o Sindicato da Indústria do Fumo (Sindifumo), esta safra deverá superar a anterior em termos de qualidade. Até março de 2007, 184 mil famílias do Sul do Brasil deverão colher 715 mil toneladas do produto, numa área de 354 mil hectares. Entretanto, se comparados aos dados do último ano, esses números representam um alerta: houve queda de 6,5 % no total de famílias ligadas ao setor e de 15% da área cultivada.

Embora o Brasil continue ocupando a posição de segundo maior produtor mundial de tabaco, muitos fumicultores já estão diversificando suas culturas, temerosos em relação ao futuro. A assinatura da Convenção Quadro por parte do governo brasileiro, em prol da diminuição do consumo de cigarro, também tem contribuído para agravar a sensação de insegurança. Segundo o Sindifumo, porém, não há motivos para pânico. - Enquanto houver demanda, haverá produção - afirma o presidente do sindicato, Iro Schünke.

Ainda assim, o clima é de incerteza no campo. Em Linha Henrique D'Ávila, interior de Vera Cruz, no Vale do Rio Pardo, a fumicultora Mara Solange Gomes, 36 anos, está apreensiva e decidiu agir. Este ano, além dos 50 mil pés de fumo tradicionalmente cultivados em sua propriedade, Mara incluiu 50 mudas de parreiras. Em três anos, espera colher 60 quilos de uva por pé. - A idéia é aumentar o parreiral com o passar do tempo, mas uma coisa é certa: não pretendemos largar o fumo - diz Mara, que estima colher 9 mil quilos de tabaco nesta safra.

Essa opção pela diversificação - e não pela substituição, como faz questão de ressaltar a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) - recebeu recentemente um importante impulso do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Na semana passada, em Santa Cruz do Sul, foi assinado o primeiro contrato do Programa de Apoio à Diversificação Produtiva das Áreas Cultivadas com Fumo. Firmado pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e a Caixa Econômica Federal, o programa beneficiará associações agroindustriais do Vale do Rio Pardo com R$ 105,9 mil. Nos próximos meses, novos projetos serão implementados.

Fonte: Zero Hora – Santa Cruz do Sul/RS, em 03.11.2006