Médicos alertam para a gravidade da DPOC, doença respiratória que atinge sete milhões de pessoas no Brasil


Mônica Tarantino


Prevenir doenças é uma atitude cada vez mais encorajada. Mas se seguir uma rotina mínima de cuidados, como visitar o clínico a cada seis meses, já exige esforço, mais difícil ainda é pensar na chance de ter enfermidades menos conhecidas. É exatamente o que acontece com a chamada Doença Obstrutiva Pulmonar Crônica, um nome tão extenso que foi trocado no dia-a-dia pela sigla DPOC. “A falta de informação sobre esse mal atrapalha a sua prevenção e o diagnóstico precoce. Milhares de pessoas têm sua qualidade de vida prejudicada pelas complicações dessa doença respiratória e morrem prematuramente”, alerta o pneumologista José Roberto Jardim, da Universidade Federal de São Paulo. No Brasil, existem sete milhões de vítimas. Pelo menos 10% passam por internações por causa do agravamento das condições respiratórias.

A DPOC estraga os pulmões. Ela é resultado da associação da bronquite crônica (inflamação dos brônquios, os canais que levam o ar até os pulmões) com o enfisema (a destruição dos alvéolos, as bolsinhas do pulmão onde ocorrem as trocas gasosas). Noventa por cento dos casos estão relacionados com a exposição prolongada dos brônquios às toxinas do cigarro. Os outros 10% são atribuídos à inalação de pós ou gases tóxicos, gerados tanto em algumas atividades agroindustriais como pelo uso de fogões e aquecedores a lenha ou carvão. Em geral, os primeiros sintomas (tosse com catarro, sinalizando inflamação dos brônquios) aparecem depois de 15 a 25 anos de convivência com um desses agentes nocivos. Nessa fase, o diagnóstico normalmente é de bronquite crônica e já pode haver falta de ar. Mas a ação contínua dos fatores de risco, como o tabagismo, leva à destruição dos alvéolos. Com isso, o pulmão perde elasticidade e a falta de ar aumenta. Os especialistas dizem que, na presença de sintomas, não é incomum médicos menos experientes diagnosticarem apenas bronquite ou enfisema, sem considerar uma possível associação futura e suas complicações.

Preocupado em criar estratégias para divulgar as características da doença e conter seu avanço, Jardim coordena as ações no Brasil da Iniciativa Global sobre a DPOC, um comitê internacional de especialistas. No mês passado, o grupo organizou manifestações em 72 países para alertar sobre a gravidade, tratamento e prevenção. Na ocasião, divulgou um questionário com cinco perguntas para avaliar o risco de ter a doença. Além disso, uma comissão foi ao Ministério da Saúde propor formas de controlar o avanço das doenças respiratórias. Saíram de lá um pouco mais animados. “O governo começará a distribuir gratuitamente um medicamento em spray para prevenir as crises de asma e bronquite e um broncodilatador”, explicou Jardim. Outra proposta levada pelo médico, bastante polêmica, é elevar o preço do cigarro para restringir o consumo.

O tratamento começa com o afastamento dos fatores de risco. Os médicos também indicam o uso de broncodilatadores para quem já sente falta de ar quando faz esforços de média ou grande intensidade, como caminhar depressa. Essas substâncias aliviam o sintoma. Neste item, há novidades para os portadores da DPOC. No final do mês passado, foi lançada uma nova substância, o brometo de tiotrópio (nome comercial Spiriva), com ação mais prolongada e usado apenas uma vez por dia. A atividade física e reabilitação respiratória fazem parte das medidas de recuperação do fôlego. Porém só devem ser adotados depois de uma avaliação da função pulmonar feita com o teste de espirometria. É o mesmo exame recomendado após os 40 anos, principalmente para os fumantes, para detectar a DPOC no começo.

O estrago nos pulmões

1. As vias aéreas levam o ar para os pulmões. Como os ramos de uma árvore, elas ficam cada vez menores. No final de cada um desses raminhos, há muitos saquinhos, semelhantes a balões. São os alvéolos. Cada um deles se enche de ar e se esvazia rapidamente, oxigenando o sangue.

2. A DPOC muda o pulmão. As paredes das vias aéreas ficam grossas e inchadas. Tornam-se ainda mais estreitas porque são comprimidas pela musculatura lisa ao seu redor. Além disso, há produção de muco, que é eliminado pela tosse. Tudo isso diminui a entrada de ar. Na fase em que há enfisema, as paredes dos alvéolos se rompem formando bolhas e há diminuição da elasticidade, o que dificulta a passagem do oxigênio para o sangue. Há falta de ar, cansaço e tosse.

Fonte: Isto É em 29-11-2003.