A nova febre em SP: fumar narguilé

Cachimbo d'água, usado há milênios no Oriente, se populariza

Adriana Carranca

Onde há fumaça há... um narguilé. Tudo começou com uma novela. Bares temáticos abriram as portas. Restaurantes de culinária árabe aderiram. Os clientes começaram a fumar, trouxeram amigos, que levaram outros. E, no boca-a-boca, o que era moda se tornou uma febre. O tradicional cachimbo d'água ou narguilé usado há milênios nos países do Sudeste Asiático e Oriente Médio (também conhecido como hookah ou shisha) agora é comprado para se ter em casa.

Os novos modelos facilitaram a popularização do narguilé, que vem em caixas portáteis e fáceis de carregar. Isso porque quem tem leva o objeto para todos os lados: à casa de amigos, aos restaurantes, ao bar da esquina e até à padaria e à praia. Nas areias do litoral norte se tornou comum ver rodas de jovens banhistas reunidos sob o sol e em torno de baforadas aromatizadas de maçã, morango, hortelã, entre outros.

NOVOS AROMAS

Com a introdução de sabores diferentes ao tabaco, o uso dos cachimbos d'água cresceu drasticamente entre os jovens no Oriente Médio. E agora, está se tornando globalmente popular nos câmpus das universidades, entre outros locais que a galera costuma se reunir. O cachimbo d'água é forma de sociabilização, uma vez que muitos amigos fumam o mesmo narguilé juntos.

"É gostoso fumar com amigos. E faz bem menos mal do que o cigarro. Um dos males do cigarro pelo que sei é fumaça quente", diz Antonio Carlos de Macedo Junior, de 46 anos, que comprou o seu narguilé no Brás. Um estudo da Organização Mundial de Saúde publicado recentemente diz que os cachimbos d'água são difundidos sob a ilusão de ser uma forma segura de se fumar. Hoje até os adolescentes embarcaram nesse hábito oriental milenar. Júnior tem dois filhos, o mais velho, de 16 anos, já experimentou.

"Sempre tive um 'q' pela cultura árabe. Comecei gostando da dança, das festas que via de amigos, aí teve a novela, abriram os bares, hoje, fumo até em churrasco, dois ou três narguilés."Júnior leva o narguilé até para a praia. Durante o dia, ele e os amigos tomam uma cerveja, sentam sob o sol e fumam. "O narguilé combina com tudo. É um motivo a mais para reunir os amigos em roda e bater papo." Ele acredita no falso mito de que é um hábito que não vicia.

BAFORADAS NO BAR

Quem não tem um também pode se divertir em bares como o Alibabar, uma casa na Vila Olímpia, zona sul, que cobra R$ 19,50 pelo aluguel do aparelho por uma hora (ou enquanto durarem dois carvões ). O representante comercial Sergio Antonio Pereira, de 34 anos, foi até lá, e deu as primeiras baforadas, por curiosidade.

"Gostei tanto que me tornei habitué. Logo depois, pedi a um amigo que trouxesse um narguilé para mim do Líbano." O ex-fumante, que consumiu três maços por dia durante 14 anos, diz que parou de fumar há 2 anos. Mas, e o narguilé? "Esse eu só acendo com os amigos. Não tem graça fumar sozinho." Não traga? "Trago como o cigarro, mas o narguilé não me dá dor de cabeça nem cheiro. Parei com o cigarro por causa do cheiro." Quando vai ao bar, ele leva seu narguilé, assim pode fumar sem limite de tempo - só usa o fumo de maçã.

Pereira chegou a comprar mais dois narguilés, mas deu de presente para amigos. Para embalar as baforadas, Pereira também passou a ouvir músicas árabes. "Uma coisa leva à outra. Mas o narguilé virou praga", diz Pereira.

A procura pelo cachimbo d'água aumentou tanto que já é vendido em banca de jornal e no templo das quinquilharias, a Rua 25 de Março, sem nenhum traço de tradição oriental. São modelos chineses, que invadiram o mercado interno com preços competitivos, 30% mais baixos do que os modelos vindos do Líbano, Síria e Egito, fabricantes de narguilés de primeira linha. Já existem também cópias nacionais, bem atraentes, feitas com vidros coloridos.

NEGÓCIO DA CHINA

O importador Ali Hage, de 37 anos, diz que o narguilé virou um negócio lucrativo. Ele começou a importá-lo meio sem querer. "Sempre trazia um ou dois para amigos. Aí as encomendas aumentaram muito e resolvi fazer disso um negócio." Hage importa 5 mil por ano e a maioria de seus clientes (95%) não tem ascendência árabe.

"O que tá pegando agora é o modelo chinês, mais em conta. Não tem tanta qualidade como beleza." Os narguilés de primeira linha são feitos de cristal tcheco e aço inoxidável. O cristal chinês não é tão limpo e, portanto, brilha bem menos.

O preço dos narguilés importados varia de acordo com a origem e o tamanho. É possível encontrar modelos de R$ 100 a R$ 1.500. Mas Hage avisa: "Narguilé é como carro. Você sempre pode equipá-lo."

Fonte: OESP em 07-04-2007.