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Bebida
"Na segunda-feira passada, o presidente do Conar, Gilberto Leifert,
desqualificou as estatísticas sobre a dimensão dos problemas relacionados
com o álcool no Brasil dizendo que eram feitas em grande parte por profissionais
como eu, ativistas, e que teriam pouca validade.
Estranho mundo o nosso. O presidente de um conselho absolutamente desqualificado
para defender o interesse público, que sistematicamente viola as próprias
regras de auto-regulamentação e que defende um tipo de propaganda do
álcool que ofende os valores de uma sociedade civilizada e deseduca
milhões de crianças brasileiras, questiona mais de duas décadas de pesquisas
que são publicadas em revistas científicas internacionais da melhor
qualidade.
O resumo desses dados justifica a preocupação recente da OMS, que destaca
o Brasil como um dos poucos países onde a mortalidade relacionada ao
álcool é maior que à relacionada ao tabaco.
Os donos de agências de publicidade, bem como as redes de televisão,
estão inconformados com a tendência do governo federal em controlar
a propaganda do álcool. E ficam especialmente incrédulos com o movimento
social que pressiona o governo, coordenado pela Aliança Cidadã pelo
Controle do Álcool (Acca) -um simples conglomerado de 400 ONGs de saúde,
educação e com várias religiões-, que, mesmo sem dinheiro e estrutura,
consegue um abaixo-assinado com 700 mil assinaturas pedindo o banimento
da propaganda do álcool nos meios de comunicação.
A saúde pública necessita de ativistas. E considero-me um deles. Com
mais de cem artigos científicos publicados, cuja validade é reconhecida
pelos meus pares, acredito ser um ativista qualificado, que coloca os
interesses da população acima de qualquer valor.
O governo federal tem um bom teste pela frente. Ou defende a saúde dos
brasileiros e proíbe a propaganda ou cede aos interesses espúrios da
indústria do álcool e seus representantes no Conar. Para o bem da saúde
pública, esse conselho deveria ser extinto."
RONALDO LARANJEIRA , PhD em psiquiatria pela
Universidade de Londres, livre-docente em psiquiatria na Unifesp (São
Paulo, SP)
FOLHA, em 07/06/07