Anúncios antitabagistas da indústria não funcionam, diz estudo - EUA

 

Os anúncios de TV que os fabricantes de cigarro dizem servir para desestimular o tabagismo entre adolescentes não funcionam, e alguns na verdade incentivam os jovens a fumar, disseram pesquisadores. Um estudo feito junto a mais de 100 mil adolescentes dos Estados Unidos mostrou que os anúncios fazem mais mal do que bem, de acordo com o artigo publicado na revista American Journal of Public Health (Jornal Americano de Saúde Pública, em português).

"A indústria do tabaco está viciada em mentir, e na verdade quer que nossos meninos fiquem dependentes do tabaco. Se eles levam a sério a redução nas taxas de fumantes, deveriam parar de gastar 15 bilhões de dólares por ano para promover seus produtos mortais", disse M. Cass Weeler, ExecutivoChefe da Associação Americana do Coração. Melanie Wakefield, do Conselho do Câncer de Victoria (em Melbourne, Austrália), e seus colegas da Universide de Illinois, em Chicago, e da Universidade de Michigan obtiveram dados de audiência de TV da Nielsen Media Research. Eles examinaram o alcance e a frequência dos anúncios dos fabricantes de cigarros e se eram vistos por jovens de 12 a 17 anos nas 75 maiores praças dos Estados Unidos, que abrangem quase 80% dos domicílios do país, entre 1999 e 2002.

Os pesquisadores então avaliaram pesquisas sobre o tabagismo feitas com alunos em 48 Estados, no mesmo período da Universidade de Michigan. Os dados não mostraram nenhuma correlação entre a frequência dos anúncios antitabagistas dos fabricantes e o fato de jovens fumarem ou pretenderem fumar. "Esta pesquisa fornece a evidência mais clara até agora de que os anúncios patrocinados pelas fábricas não funcionam", disse Wakefield, que também trabalha na Universidade de Illinois, em nota. "Os anúncios voltados para jovens não têm impacto, e os voltados para os pais parecem ter um efeito adverso sobre os estudantes que estão no meio ou no final da adolescência."

Os pesquisadores citaram uma campanha nacional lançada em dezembro de 1998 pela Philip Morris, uma das maiores indústrias do setor, com o slogan "Pense, não fume". A campanha custou 100 milhões de dólares. De acordo com eles, em uma das etapas da pesquisa, Carolyn Levin, exDiretora dos programas de prevenção ao tabagismo juvenil da Philip Morris, "admitiu que o objetivo dos programas era adiar o consumo de cigarros até os 18 anos", e não evitar que os

adolescentes se tornem fumantes ao longo da vida. Na pesquisa, adolescentes que vivem em mercados onde havia mais anúncios voltados para os pais tiveram menos propensão a verem esses anúncios e mais propensão a dizerem que podem vir a fumar no futuro. "É concebível que os anúncios de prevenção ao fumo das companhias de tabaco possam até ter efeitos adversos maiores sobre o comportamento do tabagismo juvenil do que o sugerido neste estudo", escreveram.

Peggy Roberts, Assessora de Imprensa da Philip Morris, disse que a empresa faz pesquisas exaustivas para garantir que os anúncios tenham eficácia junto aos pais. "Não encontramos nada que indique que as conclusões deste estudo sejam válidas." Roberts disse que uma pesquisa feita em meados de 2006 mostrou que 61% dos pais de jovens de 10 a 17 anos se lembravam de ter visto pelo menos um anúncio antitabagista da Philip Morris, e a maioria declarava que aconselhou os filhos a não fumarem depois de verem o anúncio. A assessora também contestou a declaração atribuída a Levin, dizendo que a frase é incompatível com os objetivos da empresa. "Pessoalmente tenho dificuldades em imaginar que ela tenha dito isso", afirmou.

Fonte: Pantanal News - MT em 10-11-2006.