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Quem é quem, e quem faz o que no lobby das indústrias fumageiras para evitar a ratificação do Tratado Internacional para Controle do Tabaco pelo Brasil. É hora da sociedade civil saber o que se passa e dar um basta! DR PAULO CESAR R P CORREA*
A Rede Tabaco Zero (RTZ) tem feito controle social do desenrolar dos
fatos no Senado e torna-se fundamental levar a discussão para
a sociedade como um todo. Está bastante claro que foi montado
um cuidadoso, detalhado e bem articulado lobby visando ir protelando
a ratificação para que o Brasil não conseguisse
estar entre os 40 primeiros países a ratificar o tratado. Fundamental
que a sociedade saiba disso. Necessário levantar alguns pontos:
O que terá motivado o Senador Bezerra a pedir a relatoria da
matéria? Bezerra foi no passado conselheiro da Confederação
Nacional da Indústria (CNI) e, mais recentemente seu Presidente.
E é justamente a CNI que entrou no final de setembro de 2004
com uma ação de inconstitucionalidade (adin) contra os
limites estabelecidos para a propaganda comercial de tabaco. O artigo
3º da Lei 9.294/96 foi alterado em 2000 pela Lei 10.167/00 e, em
2001, pela Medida Provisória 12.190-34, de forma que a propaganda
comercial de tabaco não pode ser veiculada em rádio e
TV. E a CNI está contra isso! Ou seja, a CNI está combatendo
as leis que limitam a propaganda de produtos de tabaco no país,
desejando que nossos jovens sejam seduzidos pelas propagandas de cigarros,
tornando-se dependentes de nicotina muitas vezes para o resto de suas
vidas e eventualmente falecendo devido ao uso dos produtos de tabaco.
Um desserviço à nação. Portanto, fica claro
que no mínimo há um conflito de interesse pelo Senador,
o qual não deveria ter sido designado como relator. Não
nos parece de forma alguma garantida a isenção para a
emissão de um parecer sobre a matéria, uma vez que está
bastante clara a posição da entidade aonde o Senador esteve
envolvido por tantos anos. Já diz o ditado "Diga-me com
quem andas que eu te direi quem és!". O site da Afubra (http://www.afubra.com.br) nos informa que a entidade foi criada em 1955, para prover os agricultores com seguro de baixo custo contra vento e granizo. Quando clicamos na guia estrutura da Afubra, descobre-se ao ler o item 7 que a mesma é filiada à Associação Internacional dos Produtores de Fumo (ITGA) e que "é através da ITGA, fundada no dia 26/11/1984 em Santa Cruz do Sul, que a Afubra acompanha a situação e tendências do mercado internacional de fumo. Esta entidade salienta, a nível mundial, a grande importância social que a fumicultura representa. O presidente da Afubra, Hainsi Gralow, também já presidiu esta entidade". Mas, quem é a ITGA e quem ela representa? Em 1994 documentos internos da fumageira Brown & Williamson (subsidiaria da British American Tobacco) foram divulgados para o público por Merrell Williams e entregues ao Congresso Americano, à imprensa e ao professor Stan Glantz da Universidade da Califórnia de São Francisco. Esses documentos mostram com grande riqueza de detalhes como as indústrias fumageiras conseguiram criar uma grande aliança agrária internacional com organizações testa de ferro à frente. Uma destas organizações testa de ferro é a ITGA, a qual, como demonstram extensamente estes documentos, é mantida pela British American Tobacco (da qual a Cia. de Cigarros Souza Cruz é subsidiária), e utilizada para pressionar o setor agrícola dos países que produzem fumo. Voltando a audiência de 15/09/04, o quorum de legisladores presentes era pequeno, sendo que o Senador Suplicy, que presidia a seção, foi na grande maioria do tempo o único senador presente, uma vez que a maioria dos senadores estava envolvida com a votação do Projeto de Lei da Biosegurança. O Senador Pedro Simon (PMDB-RS) foi ao local de audiência e propôs o adiamento da audiência, porém o Presidente da Comissão, Senador Eduardo Suplicy, optou pela continuação dos trabalhos, tendo em vista os esforços do comparecimento das diversas representações presentes, provenientes de várias partes do País, e pelo fato da audiência estar sendo gravada, possibilitando uma análise posterior pelo plenário do Senado. Diante disso o senador Simon disse que precisaria tomar parte em outras atividades e retirou-se do recinto. Voltou no final da audiência para apoiar a posição da Afubra de que o Brasil só deveria ratificar quando outros paises grandes produtores mundiais de tabaco o fizessem. Simon chegou a dizer que o Brasil poderia até liderar os países produtores no sentido da ratificação, mas que o Brasil deveria ratificar apenas depois que todos os outros o fizessem. Após a audiência de 15/09/04 o projeto ficou parado em função de estarem ocorrendo as eleições municipais de primeiro e segundo turno. No ultimo dia 10 de novembro, a RTZ alertou ao Senador Suplicy sobre
as estratégias de adiamento que vinham acontecendo e das deletérias
conseqüências do Brasil não ficar entre os primeiros
40 paises a ratificar: o Brasil não faria parte do bloco que
negociará os protocolos do tratado, além de não
poder fazer parte da secretaria que irá monitorar a implementação
do acordo. Entretanto, Suplicy concordou com o pedido do Sr. Hainsi
Gralow, dirigente da Afubra, para a realização de nova
audiência pública no Senado, agora em Santa Cruz do Sul,
e a agendou para a data de 06 de dezembro de 2004, em função
ser esta a disponibilidade de agenda do parlamentar. Se a nova Audiência
Pública não tivesse sido agendada e o projeto aprovado
pelo Senado até 30 de novembro, data em que o Peru fez a 40ª
ratificação, hoje o Brasil poderia fazer parte do seleto
grupo das primeiras 40 nações a ratificarem o instrumento.
Em contato com o Senador em 08/12/04 perguntei-lhe como se sentia a
respeito. Respondeu-me que "não me sinto responsável". Fonte: RTZ em 10.12.2004 |