Reflexões no feriado prolongado...

Mário Albanese

O quadro sócio-político atual é um convite à ineficiência e constitui-se em séria ameaça às gerações futuras. As soluções apresentadas pelos poderes constituídos assentam-se na simples mudança de nome. Dessa maneira, os "institutos" viraram "agências" e a "corrupção", virou "lobby"... O expediente é torpe e coloca em dúvida a inteligência de todos pois, mexerica também pode ser chamada de tangerina, bergamota e laranja cravo. Com esse escopo, atente-se para a frase teorizada por Lampeduza: "para que tudo fique como está é preciso que tudo mude para continuar na mesma". Eis uma projeção fidedigna do momento, pouco alvissareiro, da institucionalização do trambique. Exige-se uma reação da sociedade e, debaixo para cima! Certamente os menos avisados imaginam que o subscritor deste artigo esteja falando de política. Puro engano, a referência é para a técnica conceitual, cínica e sedutora, praticada pelas indústrias do tabaco ao afirmar com argumentos falsos que, se há muita doença e morte em razão do tabagismo, a culpa é só do fumante! Aproveitam-se da submissão determinada pelo vício para incutir na opinião pública que a "liberdade de escolha" e a "decisão de fumar" são atos espontâneos e unilaterais do fumante. Na realidade, é para frear a fissura por nicotina, uma ansiedade incontrolável, que motiva desatinos inimagináveis como perambular no meio da noite para comprar cigarros seja lá onde for. Parece mentira mas até no lixo o fumante procura por uma bituca salvadora. Oportuno o depoimento do estimado amigo e notável homem público, Rogê Ferreira, que, mesmo infartado e na ambulância, pedia um cigarro... No mar, o banhista com o braço levantado não está pedindo socorro e sim segurando, com fervor doentio, seu maço de cigarros! A complexidade das reações ao vício depende do grau de dependência e comprometimento com o tabagismo. Promover um debate, honesto e franco sobre tabagismo , é covardia. Ninguém participa! O fumante não comparece e o não fumante, se omite!

Os motes da propaganda subliminar do fumo continuam os mesmos: liberdade, sexo e movimento! Falar em liberdade para uma criança e ou adolescente é fascinante! Ligar o sentido de liberdade ao sexo, melhor ainda! Emoldurar a propaganda com pessoas bonitas e vitoriosas no esporte, é o sucesso! A ganância voraz das indústrias de cigarro tem uma equação perfeita para eternizar o seu lucro: viciar a criança para ganhar um consumidor cativo por muitos anos e, finalmente, deixar a conta para ser paga pela sociedade! Uma tremenda injustiça!Para que haja verdadeiramente democracia no Brasil é preciso disseminar o senso coletivo de respeito à lei. De fato, o espírito democrático na cai do céu e deve ser forjado no exercício diário da cidadania. Observe-se que as tabaqueiras, quando apertadas, entregam o consumidor fumante sem a menor cerimônia para livrar-se de sua obrigação e responsabilidade de indenizar, isto é, reparar pelos danos causados à saúde pública.

A ADESF acredita que é chegada a hora de revisar o tabagismo e seu entendimento histórico para construir e lapidar conhecimentos projetando melhorar a qualidade de vida de todos. Filie-se! http://www.adesf.org.br

Fonte: ADESF em 14-06-2006.