Selo indicará estabelecimentos livres
de cigarro
Restaurantes, bares, lojas e empresas que proibirem
o fumo terão atestado da Secretaria da Saúde em agosto
Estudos mostram que inalar fumaça de tabaco pode
causar doenças como asma, bronquite e enfisema mesmo em quem
nunca fumou
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Entrar em um restaurante, um bar ou uma loja livre
de qualquer sinal de fumaça de cigarro pode ser realidade dentro
de alguns meses no que depender da Secretaria Estadual da Saúde.
Em agosto, a secretaria lançará o selo Ambiente Livre
do Tabaco para estabelecimentos comerciais, prédios públicos
e empresas que impedem o fumo em suas dependências. Não
vale nem no fumódromo.
O objetivo, explica Luizemir Lago, diretora do Centro de Referência
de Álcool, Tabaco e Outras Drogas, que faz parte da secretaria,
é tentar evitar que a fumaça do cigarro atinja os não-fumantes
e intoxique seu organismo.
Estudos mostram que inalar fumaça de tabaco pode causar doenças
como asma, bronquite ou enfisema pulmonar mesmo em quem nunca colocou
um cigarro na boca.
De acordo com Lago, não existe hoje nenhum risco seguro de poluição
tabágica. "Não há nenhuma demonstração
de que a fumaça do cigarro não prejudique os não-fumantes.
Pelo contrário", afirma.
"Mesmo que se fume em uma outra sala, é possível
encontrar substâncias tóxicas do tabaco nos organismos
de colegas que estejam mais distantes. É nossa obrigação
cuidar da saúde de quem não fuma."
A medida, explica, não será obrigatória. "Mas
vamos trabalhar com a conscientização. As empresas do
Estado de São Paulo devem estimular seus funcionários
a parar de fumar. Quando isso não for possível, o fumante
deve estar ao ar livre, onde a fumaça se espalha e não
deixa resíduos." No caso de restaurantes e lojas, por exemplo,
Lago espera que a população se eduque. "Ninguém
fuma em cinema ou teatro, por que fumar em restaurante?"
Cartilha
Para ajudar no trabalho de conscientização, a comissão
está começando a elaborar um manual para empresas e estabelecimentos
comerciais. "Esperamos que a sociedade se interesse e mostre preocupação
com a saúde alheia. O selo pode ser até um atrativo para
a clientela, como um atestado de qualidade", diz a diretora.
Dados do Ministério da Saúde divulgados no início
de maio mostram que 80% dos brasileiros não fumam, mas são
submetidos ao tabagismo passivo.
Representantes de restaurantes ouvidos ontem pela Folha, no entanto,
ainda estão em dúvida se o selo irá atrair ou afastar
clientes.
Para receber o selo, grupos da secretaria e da Vigilância Sanitária
percorrerão os estabelecimentos a fim de conferir se a fumaça
foi, de fato, banida. "Não temos idéia de quantos
estarão aptos a receber o selo em pouco tempo, é um trabalho
a médio e a longo prazo."
Clientes e donos de restaurantes estão divididos sobre a criação
do novo selo
DA REPORTAGEM LOCAL
Clientes, donos e gerentes de restaurantes de São
Paulo estão divididos sobre a idéia da Secretaria Estadual
da Saúde de dar selos a estabelecimentos comerciais e empresas
que consigam se manter livres da fumaça do cigarro. Proprietário
e chef do Pizza Bros, em Higienópolis, zona oeste, Franco Ravioli,
por exemplo, não acha que o selo possa atrair clientes.
"Acho que não dá para ser tão radical. Já
temos área de fumantes e de não-fumantes", afirma.
Apesar das áreas delimitadas, ele diz que, de vez em quando,
algum não-fumante reclama da fumaça alheia.
A produtora Silvia Sartori, 46, que ontem almoçava lá,
não chega a reclamar, mas diz se sentir incomodada mesmo quando
está na área de não-fumantes. "A fumaça
não respeita limites. Não tem nada mais desagradável
do que você estar saboreando uma boa comida e sentir o cheiro
de cigarro. Eu me tornaria adepta de restaurantes com o selo."
Seu filho, Pedro Sorrentino, 18, também não é fumante,
mas discorda da mãe. "Acho ruim você proibir, é
discriminatório", diz. "Em bares e restaurantes, acho
muito difícil essa medida pegar."
Já Arlindo Coelho, gerente do restaurante Mexilhão, no
Bexiga, região central, adoraria ver o selo por lá. "É
muita fumaça. Como no domingo tem muita gente, nem conseguimos
separar os clientes em alas e tem sempre alguém que reclama.
Seria ótimo se ninguém pudesse fumar aqui."
Gerente do Bar da Praça, também em Higienópolis,
Herbert Adomeit afirma que o selo até pode ser uma boa idéia,
mas não sabe se pode atrair ou afastar clientes. "Aqui a
gente se organizou para tentar evitar que a fumaça invada a ala
dos não fumantes." Entre as duas áreas, três
mesas ficam livres e são destinadas a quem não se importa
com o fumo alheio.
Na ala de fumantes, o empresário Joseph Tawil, 53, acendia seu
cigarro após o almoço. "A idéia é absurda,
passaria longe de um lugar com selo." (DT)
Fonte: Folha de São Paulo em 18-06-2007.