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01/03/2008 (11:39) | COMENTÁRIOS (0)

Um quinto do total de mortes no país é provocado pelo fumo

Haroldo Abrantes / Agência A Tarde

André Pacheco tenta largar o vício há doze anos

Maria Clara Lima, do A Tarde On Line

Cerca de 200 mil brasileiros morrem todos os anos em decorrência de doenças provocadas pelo fumo. O número, que representa cerca de um quinto do total de mortes do país, é reflexo direto da quantidade de fumantes no Brasil, que, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), já ultrapassa os 20 milhões de adultos.

Para combater essa realidade, o Ministério da Saúde propôs, recentemente, o fim dos espaços específicos para fumo em prédios de uso públicos do país, os chamados fumódromos, comuns em locais como os shopping centers. De acordo com o Ministério, a medida teria o efeito de inibir o consumo de cigarros e, principalmente, visa proteger os fumantes passivos dos efeitos da fumaça do cigarro.

A medida tem apoio mesmo entre quem ainda não consegue abrir mão do cigarro. É o caso do educador social André Pacheco, 39, que fuma há quinze anos. Ele faz parte ainda de uma outra estatística: a dos brasileiros que tentam abandonar o vício. Uma pesquisa realizada pelo Datafolha no ano passado revelou que 69% dos fumantes já tentou sem sucesso abandonar o fumo. Para André, foram cinco tentativas nos últimos doze anos, período em que retomou o vício depois de um longo intervalo longe do cigarro. “O que eu mais quero é parar, por causa da minha saúde, fôlego, irritação na garganta, mas não estou conseguindo”, lamenta.

Apesar da dificuldade, o número de ex-fumantes é crescente no país. Segundo o Inca, 10 milhões de brasileiros deixaram de fumar nos últimos 16 anos. E a tendência é de ampliação desse número, conforme explica o pneumologista do Programa Estadual de Controle do Tabagismo da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), Francisco Hora. Segundo ele, isso é um reflexo da eficiência dos programas de controle do vício implementados no Brasil, que é equivalente àqueles adotados nos países desenvolvidos.

Essa redução do número de fumantes é percebida mais claramente quanto se observa a venda dos produtos, que se mantém em queda nos últimos anos. O número de maços vendidos no país não é divulgado pelas empresas do setor, mas a análise da arrecadação demonstra essa tendência. Entre os anos de 2006 e 2007, a taxa média do imposto cresceu 29%, mas a arrecadação cresceu somente 17%. “Na prática, pode-se dizer que a arrecadação aumentou por causa da tributação, mas  houve queda na venda de cigarro”, explica o economista e professor Paulo Balanco. Estes dados são do Ministério da Fazenda e refletem apenas o mercado formal.

A principal receita para deixar de fumar é mesmo a força de vontade. É o que ensina a dona-de-casa Marília Guedes, 62, que fumou por 40 anos e parou há quatro. “Não foi fácil”, ela diz, “mas eu acordava tossindo no meio da noite e decidi”. Ela já havia tentado antes, mas diz que não teve a mesma determinação que desta última vez, quando procurou ajuda médica. “Não tive doença alguma, mas tinha medo e precisei de muita determinação”, conta.

Tabagismo e doença – Segundo Francisco Hora, as doenças que mais matam no país têm alguma relação com o fumo. “Vinte e cinco por cento das mortes provocadas por problemas cardiovasculares e 30% dos cânceres em geral são ocasionados pelo fumo”, alerta.

O maior efeito do fumo, no entanto, está nas doenças pulmonares. Noventa por cento dos cânceres de pulmão e 85% da bronquite crônica e enfisema pulmonar são causados pelo uso continuado do tabaco. “O câncer de pulmão é uma doença que não deveria existir, porque, praticamente, somente quem fuma desenvolve”, diz Hora. Segundo o Inca, este tipo de câncer é o mais comum no mundo e, no Brasil, embora não seja o mais freqüente na população, é aquele que mais provoca mortes entre os homens e o segundo nas mulheres, atrás somente dos tumores de mama.

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