“Mais médicos fumam Camel do que qualquer outro cigarro”. A frase, que hoje
faria tremer qualquer associação de medicina, está estampada num anúncio de
cigarro da marca Camel criado em 1946. Houve um tempo em que o hábito de fumar,
além de elegante, fazia bem à saúde. Essa era a pretensão de uma poderosa
indústria tabagista que, em busca de consumidores, recrutou médicos, dentistas e
até bebês a seu favor. “Puxa, mamãe, você realmente gosta dos seus Marlboros”,
diz outro anúncio polêmico que estampa a foto de uma criança. Essas propagandas,
criadas entre os anos 1927 e 1954, fazem parte de uma exposição organizada pela
Biblioteca Pública de Nova York. Os anúncios, que circulavam em revistas como
Life e Saturday Evening Post, são coloridos e criativos. A exposição ainda
recorre a celebridades que emprestaram rosto e pulmões à indústria tabagista. O
ator Ronald Reagan, o esportista Joe DiMaggio e até Papai Noel aparecem de
cigarro em mãos.
As propagandas também poderiam ilustrar uma recente e
polêmica descoberta de pesquisadores da Universidade da Califórnia e da
Universidade Stanford. Em setembro, eles revelaram documentos secretos que
mostram o verdadeiro tamanho dos interesses da indústria tabagista. Artistas
como John Wayne, Henry Fonda e Bette Davis receberam milhares de dólares para
promover marcas de cigarro durante a era dourada do cinema americano, nas
décadas de 30 e 40. Só a empresa American Tobacco pagou o equivalente atual a
US$ 3,2 milhões para ver a marca Lucky Strike nas telas de Hollywood. Entre os
artistas mais bem pagos estavam Clark Gable, Gary Cooper e Joan Crawford. Cada
um recebeu US$ 10 mil, o equivalente a US$ 100 mil atuais. A indústria tabagista
não imaginava que acender um cigarro e sorrir como Clark Gable custaria um preço
ainda maior à saúde das gerações que compraram a propaganda de Hollywood. Se o
médico que defendeu as maravilhas de Camel não fosse apenas um figurante de
publicidade, nenhuma tosse disfarçaria o constrangimento.
"Mais médicos fumam Camel do que qualquer
outro cigarro" A marca Camel distribuiu maços de cigarro na entrada de convenções médicas no ano de 1946. Ao final do evento, um grupo de pesquisadores perguntava qual marca de cigarro os médicos levavam no bolso. A resposta não podia ser outra: eram os mesmos maços recebidos antes. A "estatística" virou anúncio. |
"Como seu dentista, eu recomendo
Viceroys" Enquanto as causas de câncer bucal eram lentamente associadas ao fumo, o cigarro Viceroys exibia dentistas defendendo a marca. De acordo com estatísticas da empresa, mais de 38 mil dentistas aprovavam Viceroys. |
"Puxa, mamãe, você realmente gosta dos seus
Marlboros" O uso de crianças na propaganda atingia principalmente o público feminino, e fazia parte dos esforços da indústria tabagista para ampliar a base de consumidores. Segundo a peça publicitária, o milagre dos cigarros Marlboro era não "empapuçar" seus usuários. |