Estado americano declara a fumaça de cigarro tão nociva quanto o benzeno e avalia medidas a tomar

Califórnia iguala poluição de fumo à de carro
DON THOMPSON
DA ASSOCIATED PRESS, EM SACRAMENTO

A Califórnia declarou a fumaça de cigarros um poluente tóxico do ar, colocando-o na mesma categoria que os gases produzidos por veículos movidos a diesel, o arsênico e o benzeno, em função de seu vínculo com o câncer de mama. A partir de agora, o Conselho de Recursos do Ar, autor da classificação, terá que analisar medidas para reduzir a exposição do público à fumaça. O processo pode levar anos.
A decisão da noite de anteontem, inédita em um Estado americano, tem como base um relatório que constatou um aumento grande do risco de câncer de mama entre mulheres jovens que são fumantes passivas. Além disso, o relatório vincula a fumaça de cigarros a partos prematuros, asma e doenças cardíacas, além de outros tipos de câncer e vários problemas de saúde em crianças.
"Se as pessoas quiserem tratar o câncer de mama com seriedade, terão que incluir a questão da fumaça passiva", disse Stanton Glantz, diretor do Centro de Controle, Pesquisas e Educação do Tabaco na Universidade da Califórnia em San Francisco.
O relatório redigido por cientistas do Escritório de Avaliação de Perigos à Saúde Ambiental da Califórnia baseou-se em mais de mil outros estudos sobre fumaça de cigarros, à qual atribuiu 4.000 mortes por ano na Califórnia apenas de câncer pulmonar ou doenças cardíacas. A mais importante descoberta citada pelas autoridades é que as mulheres jovens expostas ao fumo passivo aumentam em entre 68% e 120% seu risco de apresentar câncer de mama.
A conclusão conflita com um relatório publicado em 2004 pelo diretor nacional de saúde dos EUA. Em depoimento, Sanford Barsky, um pesquisador que escrevia em nome da companhia de cigarros R.J. Reynolds, disse ao Conselho que o relatório estadual "ou não menciona ou não dá o peso correto" aos estudos que refutam a existência de um vínculo entre a fumaça secundária de cigarros e o câncer de mama.

Pesquisas
Segundo John Froines, diretor do Centro de Saúde Ocupacional e Ambiental da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e do comitê de revisão científica, o relatório estadual passou por uma revisão que adiou sua divulgação em quase um ano e é baseado em pesquisas sólidas.
Um porta-voz da R.J. Reynolds, David Howard, disse que, independentemente dos riscos causados pela fumaça em ambientes fechados, não há pesquisas que fundamentem a decisão de declará-la poluente aéreo. "Não há estudos que mostrem que a exposição à fumaça de cigarros ao ar livre leve a qualquer aumento no risco de doenças associadas ao fumo."
De acordo com Paul Knepprath, vice-presidente de relações governamentais da Associação Pulmonar Americana da Califórnia, boa parte do esforço inicial no Estado será voltado à educação pública.
Em 2003 e 2004 a associação tentou, em vão, aprovar uma lei que proibisse o fumo em veículos fechados nos quais houvesse crianças. Knepprath informou que o grupo também pode pedir a criação de alas ou andares de não-fumantes em edifícios residenciais, como ocorre em hotéis.
"Em toda a Califórnia há pessoas que vivem em apartamentos e são diariamente expostas ao fumo secundário vindo de áreas comuns ou outros apartamentos", disse. Para Knepprath, esse fato pode tornar obrigatório, no futuro, a adoção de sistemas de ventilação separados para apartamentos de fumantes e não-fumantes.

Fonte: Folha de São Paulo em 28-01-2006.