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Menos cigarro produz revolta, diz chinês
Segundo deputado, antitabagismo favoreceria repetição do colapso soviético; fumo mata por ano 1,2 milhão de chineses
China é maior produtor e
consumidor de nicotina; dos
viciados, 50 milhões são
adolescentes; maço mais
barato custa apenas R$ 0,70
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
A estabilidade social chinesa
estará ameaçada caso o governo tente diminuir o número de
fumantes, afirmou ontem o deputado Zhang Baozhen, que é
também o vice-presidente do
Monopólio Estatal de Tabaco.
Em discurso na sessão anual
do Parlamento, ele disse que
"fumar faz mal à saúde, mas
restringir o consumo de cigarros ameaça a estabilidade social". A seu ver, "os fumantes
promoveram distúrbios urbanos quando a ex-União Soviética entrou em colapso, porque
eles não conseguiam mais comprar cigarros". Ele acredita que
seu país estaria agora exposto
ao mesmo perigo.
A China é a maior produtora
e consumidora mundial de cigarros, com cerca de 2 trilhões
de unidades por ano. Uma lei
em vigor proíbe que motoristas
fumem ao volante, mas ela é soberbamente desrespeitada.
320 milhões de viciados
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), há na
China 320 milhões de dependentes -um terço dos estimados em todo o mundo. Cerca de
50 milhões de fumantes são
adolescentes. Cerca de 1,2 milhão morre anualmente por
moléstias derivadas do tabagismo, que era responsável por
12% das mortes de adultos em
2000, e que pode chegar a 33%
dentro de 13 anos.
O Partido Comunista Chinês
tem procurado conter protestos contra a corrupção, contra
acidentes ambientais e também contra o crescente fosso
que se abriu entre os mais ricos
e os mais pobres. Zhang procurou bater nessa tecla.
Também em Pequim, e numa
proposta em sentido oposto,
segundo o jornal "Diário do Povo", um dos deputados presentes na sessão do Parlamento -
seu nome é Huang Jun - propôs o aumento de impostos como forma de inibir a dependência do fumo. A arrecadação obtida com a cobrança suplementar seria canalizada para programas de tratamentos de moléstias derivadas do tabagismo.
Huang é vice-diretor de uma
faculdade de medicina em
Jiangsu e, a seu ver, o cigarro
matará 2 milhões de chineses
em 2025 caso o governo permaneça de braços cruzados.
O jornal chinês em língua inglesa "East Day" diz que a indústria local de tabaco entra
com 60% do volume arrecadado com o imposto que equivale
ao ICMS brasileiro.
Ou, segundo a OMS, o imposto sobre os cigarros permite
uma arrecadação anual de mais
ou menos um décimo dos impostos diretos que o governo
local cobra dos chineses.
Estudo publicado pelo Centro de Estudos Econômicos da
Universidade de Pequim revela
que o tratamento por doenças
provocadas pelo tabagismo
custa cinco vezes mais que o
imposto arrecadado.
Fumar é barato
O consumo continua a crescer, mesmo porque se trata de
um produto extremamente barato. Um maço de cigarros com
20 unidades sai no varejo por
algo a partir de R$ 0,70.
O "East Day" assinala que a
existência de um monopólio
estatal para o setor é um desestímulo à concorrência, que teria interesse em pesquisar para
baixar o teor tóxico do cigarro.
O produto estrangeiro, de
mais baixo teor e cuja importação é há três anos possível pelo
fato de a China ter ingressado
na OMC (Organização Mundial
do Comércio), ainda representa uma parcela pequena do consumo interno. As empresas
mais agressivas nesse imenso
mercado são as americanas,
que assim compensam amplamente a queda de suas vendas
nos Estados Unidos.
O governo chinês assinou em
2003 o FCTC, sigla de uma convenção da Organização Mundial da Saúde que sinaliza o
compromisso de forçar a baixa
do consumo de cigarros.
Segundo ainda a OMC, o fumo é hoje a segunda maior causa de mortes no mundo, com 5
milhões de vítimas por ano. Caso o tabagismo se mantenha em
seus atuais patamares, o número de óbitos dobrará até 2020.
Com agências internacionais
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