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O difícil adeus ao cigarro

Com força de vontade e tratamento adequado para cada tipo de fumante, é possível vencer o vício

AIDA VEIGA E RENATA LEAL


''Parei há quatro meses. Eu me considero uma vitoriosa porque adorava cigarro. Até hoje, chego a sonhar que estou fumando''

[HELENA RANALDI , atriz de 37 anos, ex-fumante]
Maurilo Clareto/ÉPOCA

O Brasil tem 40 milhões de fumantes. Ainda são muitos, mas o número vem caindo. O volume de cigarros queimados no país caiu 32% em dez anos, e uma pesquisa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) descobriu que 21,4% da população carioca fuma, contra 29,8% em 1989. Os dados demonstram que a política antitabagista do governo começa a dar resultados. Na semana passada o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, recebeu um prêmio da Organização Mundial da Saúde (OMS) por seu empenho nas negociações do tratado mundial antitabaco. Aprovado no fim de maio por 171 países, o documento prevê uma guerra contra a indústria do fumo, com medidas como a abolição quase total de propaganda de cigarro em cinco anos e taxações e financiamento para levar os plantadores de tabaco a mudar de negócio.

Entende-se o esforço. Deixar de fumar é um desafio que poucos conseguem vencer. Segundo um estudo publicado pela revista New Scientist, 85% dos que param voltam a dar suas baforadas depois de um ano. Alguns recaem antes. Só 3% conseguem, de fato, abandonar o vício. Quem procura ajuda médica, toma remédio e faz terapia aumenta sua chance de sucesso para 20%. O Brasil é um dos recordistas em motivação para largar o cigarro. Um estudo feito pela psiquiatra Analice Gigliotti, chefe do setor de dependência química da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, mostra que 81% dos fumantes brasileiros querem parar. É um porcentual só comparável ao dos suecos, com 85%. Mas o índice de tentativas frustradas entre os brasileiros é igualmente alto: cada um já tentou parar cinco vezes, em média - sem sucesso. Difícil é, mas vale a pena. O tabaco causa 50 tipos de doença. As mortes anuais em virtude de seu uso chegam a 5 milhões no mundo, 200 mil no Brasil. 'Já tomei a decisão de parar, porque quero ver meus filhos crescer. Mas não consigo', afirma a ex-deputada federal Rita Camata, de 41 anos. Na condição de vice do candidato a presidente José Serra, antitabagista convicto, ela reduziu o consumo diário. Nas duas vezes em que engravidou, chegou a parar completamente. Mas depois voltou. 'Sou dependente', confessa. 'Não me sinto à vontade para acender um cigarro nem em minha própria casa, mas ainda não sei viver sem fumar.'
O Brasil tem 40 milhões de fumantes. 81% querem parar, mas só 3% conseguem, de fato, abandonar o cigarro

A dependência começa um ano após as primeiras tragadas, devido a causas físicas e psicológicas. 'A nicotina faz o cérebro liberar substâncias que provocam uma grande sensação de prazer, diminuem a ansiedade e a fome e aumentam a concentração e a memória', comenta a psiquiatra Maria Madalena Pizzaia, coordenadora do ambulatório de tabagismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Já existem remédios - tanto os antidepressivos como os repositores de nicotina - que combatem a falta desses efeitos agradáveis em quem pára de fumar. Ela explica que a diferença entre o sucesso e o fracasso na empreitada contra a fumaça pode ser o estado emocional. Ter muita vontade e escolher o momento apropriado são fatores importantes. No mês passado, a cardiologista Jaqueline Issa, coordenadora do ambulatório de tabagismo do Instituto do Coração de São Paulo (Incor), lançou o livro Fumar É Gostoso… Parar É ainda Melhor, um manual de auto-ajuda baseado em sua experiência clínica. Segundo ela, se usar o medicamento adequado considerando seu perfil, na dose correta, o ex-fumante não sofrerá os sintomas da abstinência. 'Se, além do tratamento, ele consegue enfrentar aquelas situações em que sempre fumava, acabará conseguindo', afirma.



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Edição 264 - 09/06/03



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