São Paulo, quarta-feira, 09 de agosto de 2006 |
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GILBERTO DIMENSTEIN Pacientes iniciais Como alertar crianças e adolescentes sobre os riscos do tabagismo
sem parecer moralista ou catastrófico Filha de imigrantes japoneses do interior do Paraná, Nise veio sozinha para São Paulo. Seu pai achou que ela merecia deixar a família porque tinha tirado primeiro lugar num concurso de matemática. Preparou-se para o vestibular, entrou na USP e se especializou em cancerologia. Logo ficaria insatisfeita com os métodos de tratamento dos pacientes nos hospitais. "Tudo era muito frio, científico." Mudou-se para a Suíça e a Alemanha, onde trabalhou em hospitais que experimentavam tratamentos baseados na medicina antroposófica. "Não enxergavam apenas o corpo mas uma alma." Voltou ao Brasil disposta, como pesquisadora em pneumologia, a analisar pelos microscópios o comportamento das células cancerígenas. Mas se propôs, com o que estudou na Europa, a olhar além do corpo. Seu trabalho mescla o tratamento químico com ensinamentos filosóficos para que os pacientes transformem aquele momento num aprendizado sobre uma dimensão da existência. "Por isso, eles são sempre pacientes iniciais, vendo coisas novas e interessantes pela primeira vez." Tal atitude, segunda ela, favorece os tratamentos e a cura. Como cancerologista abrindo pulmões enegrecidos, Nise sabe o que significa o tabagismo -e se incomoda com os truques publicitários para convencer crianças e adolescentes de que o fumo está ligado a charme, beleza e sensualidade. As lições que aprendeu no consultório e nos hospitais estão por trás de uma idéia: chamar jovens que tiveram câncer na infância e adolescência para falar com jovens sadios. "Eles têm um extraordinário poder comunicativo." Alguns deles estiveram reunidos, ontem, na Associação Paulista de Medicina para o lançamento da campanha "Câncer tem cura, o tabagismo também". Um de seus objetivos é mobilizar a juventude contra o tabagismo -boa parte dos viciados de hoje iniciou-se no hábito de fumar quando criança. Faltava, porém, achar um jeito atraente de alertar para os riscos do tabagismo, sem parecer moralista ou catastrófico. Um jovem com aquela experiência traumática consegue sensibilizar melhor as platéias de adolescentes, que ouvem com mais atenção os relatos sobre os tumores e, no final, tendem a pensar mais vezes antes de acender um cigarro. "Um jovem que passou pela doença sabe, como ninguém, falar não sobre ela, mas sobre o prazer de viver." Texto Anterior: Sob suspeita: Presos oito PMs acusados de assassinatos Próximo Texto: A cidade é sua: Leitor reclama de demora em obter resposta da prefeitura Índice |
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