São Paulo, quarta-feira, 09 de agosto de
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GILBERTO DIMENSTEIN Pacientes iniciais Como alertar crianças e adolescentes sobre os riscos do tabagismo
sem parecer moralista ou catastrófico ![]() Filha de imigrantes japoneses do interior do Paraná, Nise veio sozinha para São Paulo. Seu pai achou que ela merecia deixar a família porque tinha tirado primeiro lugar num concurso de matemática. Preparou-se para o vestibular, entrou na USP e se especializou em cancerologia. Logo ficaria insatisfeita com os métodos de tratamento dos pacientes nos hospitais. "Tudo era muito frio, científico." Mudou-se para a Suíça e a Alemanha, onde trabalhou em hospitais que experimentavam tratamentos baseados na medicina antroposófica. "Não enxergavam apenas o corpo mas uma alma." Voltou ao Brasil disposta, como pesquisadora em pneumologia, a analisar pelos microscópios o comportamento das células cancerígenas. Mas se propôs, com o que estudou na Europa, a olhar além do corpo. Seu trabalho mescla o tratamento químico com ensinamentos filosóficos para que os pacientes transformem aquele momento num aprendizado sobre uma dimensão da existência. "Por isso, eles são sempre pacientes iniciais, vendo coisas novas e interessantes pela primeira vez." Tal atitude, segunda ela, favorece os tratamentos e a cura. ![]() Como cancerologista abrindo pulmões enegrecidos, Nise sabe o que significa o tabagismo -e se incomoda com os truques publicitários para convencer crianças e adolescentes de que o fumo está ligado a charme, beleza e sensualidade. As lições que aprendeu no consultório e nos hospitais estão por trás de uma idéia: chamar jovens que tiveram câncer na infância e adolescência para falar com jovens sadios. "Eles têm um extraordinário poder comunicativo." Alguns deles estiveram reunidos, ontem, na Associação Paulista de Medicina para o lançamento da campanha "Câncer tem cura, o tabagismo também". Um de seus objetivos é mobilizar a juventude contra o tabagismo -boa parte dos viciados de hoje iniciou-se no hábito de fumar quando criança. Faltava, porém, achar um jeito atraente de alertar para os riscos do tabagismo, sem parecer moralista ou catastrófico. ![]() Um jovem com aquela experiência traumática consegue sensibilizar melhor as platéias de adolescentes, que ouvem com mais atenção os relatos sobre os tumores e, no final, tendem a pensar mais vezes antes de acender um cigarro. "Um jovem que passou pela doença sabe, como ninguém, falar não sobre ela, mas sobre o prazer de viver." Texto Anterior: Sob suspeita: Presos oito PMs acusados de assassinatos Próximo Texto: A cidade é sua: Leitor reclama de demora em obter resposta da prefeitura Índice |
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