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FERNANDO
RODRIGUES
Escárnio
BRASÍLIA - Certas atitudes registram à perfeição o caráter de um
país, de suas instituições e de seus políticos. É o caso da renovação do
contrato para a realização do Grande Prêmio de F-1 em São Paulo. O
acordo foi anunciado outro dia pela prefeita Marta Suplicy (PT) e pela
empresa responsável pelo evento, a International Promotions. E daí? Daí
que o contrato vigorará até o dia 4 de dezembro de 2009. Ocorre que várias
das escuderias de F-1 são patrocinadas por empresas fabricantes de
cigarro. A lei brasileira só permite propagandas de tabaco em eventos
esportivos até 30 de setembro de 2005. Depois dessa data, restam três
opções. 1) a F-1 se rende à lei brasileira e deixa de usar marcas de
cigarro em seus carros; 2) a F-1 desiste do Brasil; 3) o governo
brasileiro dá mais uma colher de chá e altera o prazo para propaganda de
cigarro aparecer em eventos esportivos. No ano passado, Marta Suplicy
fez Lula baixar uma medida provisória alterando uma lei de 1996, que
proibia a propaganda de cigarros já em 2003. O presidente aceitou a
humilhação. A MP saiu. Bernie Ecclestone, o chefão da F-1, divertiu-se com
a cordialidade local. Comentou com uma frase que se tornou um clássico
instantâneo: "This is Brazil". O argumento da prefeita Marta e dos
defensores do cigarro é que a corrida de F-1 aquece a economia, surgem
empregos etc. OK. Como diz Lula, prostituição infantil e bingos também
criam postos de trabalho. Na Prefeitura de São Paulo, o secretário de
Esportes, Júlio Filgueira, declara que "não foi objeto de negociação" a
proibição de propaganda de cigarros pós-2005. O empresário Tamas Rohony,
organizador do GP Brasil, repete o secretário: "Não se tocou nesse
assunto". É um escárnio. Falaram de milhões de dólares sem mencionar quem
paga a conta. Tudo bem. Lula disse que mudaria o Brasil. Está mudando.
Equipara o país ao Bahrein, no meio do deserto, que aceita sem restrição
propaganda de cigarros em eventos esportivos.
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