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Na terceira
idade, 18% são fumantes
Pesquisa da
Unifesp no RS mostra que índice é quase o mesmo da população
mais jovem e ainda saudável
Emilio
Sant'Anna
Idosos de baixa
renda, viúvos ou separados e com baixo nível de escolaridade
são os mais expostos aos riscos causados pelo cigarro. Essa é
a conclusão de uma pesquisa da Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp) com 7 mil pessoas com mais de 60 anos no Rio
Grande do Sul. Nesse universo, são 18% de idosos fumantes -
muito perto da faixa de fumantes na população em geral (20%),
mais jovem e saudável. O estudo definiu os fatores de risco e
o perfil dos fumantes na terceira idade. "Esse é um número
muito alto, pois o idoso tende a ser um fumante mais pesado
(de dependência muito elevada) do que o resto da população",
diz a psiquiatra Valeska Marinho, autora da
pesquisa.
Entre os idosos com renda de até dois
salários mínimos, a pesquisa encontrou uma prevalência 52%
maior do vício. Os analfabetos apresentaram 35% mais chances
de fumar quando comparados com os indivíduos com ao menos a 5ª
série completa. "As pessoas desses grupos estão expostas a
chances aumentadas de uso do tabaco e com freqüência são as
que têm menos acesso às informações e aos serviços de saúde",
diz Valeska. A maior exposição aos fatores de risco ocorre
entre os homens. Mais do que o dobro dos fumantes idosos
entrevistados é do sexo masculino, 28,9%, ante 13,36% das
mulheres (os demais são não fumantes). Outro dado revelado
pela análise é a relação entre o tabagismo e as doenças
mentais. Na faixa etária acima de 60 anos, a presença de
problemas psíquicos aumentou em 1,3 vez a chance de uso de
tabaco.
Um aspecto que chama a atenção nos dados é a
relação entre o fumo e a religião. A chance de os idosos
evangélicos fumarem é duas vezes menor que entre as outras
crenças. "Essas religiões, com freqüência, envolvem maior
engajamento e tendem a ser proativas na orientação de hábitos
de vida", interpreta Valeska.
GLAMOUR
O ator
Gláucio Prata, de 63 anos, se lembra do glamour que o cigarro
tinha na década de 50, quando começou a fumar. Ele tinha 12
anos. "O cigarro era charmoso, e as mulheres valorizavam o
homem que fumava", diz. "Era efeito da maior propaganda da
época, o cinema."
Fruto de uma geração que cresceu e
aprendeu a fumar vendo seus ídolos na tela, Prata se tornou o
que os médicos chamam de "fumante pesado" (veja o teste ao
lado). Largou o vício há três anos.
Em 1997, teve uma
forte pneumonia que o levou a descobrir um enfisema pulmonar.
Ainda assim, continuou a fumar - três maços por dia - por mais
seis anos.
Ele apenas deixou o cigarro quando percebeu
que já não conseguia mais fazer as mesmas coisas a que estava
acostumado e a doença começou a influir em seu trabalho.
"Tinha medo de sofrer com a abstinência do cigarro, achei que
mesmo doente não iria parar", diz. Hoje Prata tenta aprender a
conviver com as limitações causadas pelo enfisema, toma
remédios com fortes efeitos colaterais e inalações de
oxigênio.
DISCRIMINAÇÃO
Cerca de 15% das pessoas
que procuram o Núcleo de Apoio à Prevenção e Cessação do
Tabagismo (PrevFumo) da Unifesp são idosas - um público que
busca ajuda para abandonar o vício com características
diferentes dos mais novos. "Viveram em uma sociedade que
tolerava o fumo e hoje se sentem agredidos e discriminados",
diz Sérgio Ricardo Santos, coordenador do PrevFumo. O núcleo
trata em geral de pacientes que já tentaram sem sucesso deixar
o cigarro. São idosos "que acordam durante a noite para fumar
ou põem o primeiro cigarro na boca menos de cinco minutos após
acordar", diz Santos.
O PrevFumo é o mais antigo centro
de referência no tratamento da dependência do tabaco no País.
Mas enfrenta dificuldades para distribuir o remédio, a goma de
mascar e os adesivos usados na terapia. "Esperamos há pelo
menos dois anos a oportunidade de distribuir os kits
prometidos pelo governo, mas até hoje não recebemos", diz
Santos.
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