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Eu que agradeço
OBRIGADO POR
FUMAR Fumantes: aqueles que têm o hábito não vão passar por
lição de moral. Não-fumantes: nenhum personagem é visto com um
cigarro aceso no filme
Augusto Olivani
O título é irônico
e confrontador, ainda mais em tempos que o cigarro passa a ser
banido dos ambientes sociais. Por tratar de uma questão
naturalmente polêmica, Obrigado Por Fumar poderia cair, em
mãos menos hábeis, no equívoco de ser um filme politicamente
correto em excesso ou simplesmente politicamente incorreto e
grosseiro. Mas o jovem diretor Jason Reitman não parece ser
ingênuo, nem bajulador, e por isso transforma um tema
complicado em uma das boas comédias do ano.
Nesta
história, o Senador Finistirre (William H. Macy) quer rotular
os maços de cigarro como veneno. Ele acredita que quem fuma é
idiota e que toda a indústria tabagista tem de ir para a
cadeia. A medida radical que ele propõe, porém, não agrada em
nada a associação de produtores de tabaco. Para que a opinião
pública não fique toda ao lado do senador, o homem que deve
massagear a verdade sobre os cigarros é o lobista Nick Naylor
(Aaron Eckhart) - homem sem escrúpulos morais, de retórica
agressiva, mas que tem o sorriso que a América ama. Neste fogo
cruzado, sobra para a vida pessoal de Naylor - cujo filho quer
conhecê-lo como pai e como profissional - e também para a
sexual, já que ele acaba se envolvendo com uma repórter
inescrupulosa (Katie Holmes) que quer conhecer seus
segredos.
Desde os créditos iniciais, 'Obrigado por
Fumar' prende a atenção do espectador. As situações pelas
quais Nick Naylor passa são tensas, mas ele age com tal
naturalidade no papel de advogado do diabo que o humor surge
quase sempre sardônico. Afinal, para ele, "quem sabe
argumentar nunca está errado". As cenas vão se sucedendo com
dinamismo e costuram o ótimo elenco que o diretor Reitman
convidou individualmente. Nos encontros dos Mercadores da
Morte (os lobistas de armas, álcool e cigarro), por exemplo,
os personagens são sinceros até demais, discutindo sobre qual
ramo de atividade mata mais. Já a negociação entre Nick Naylor
e o agente hollywoodiano Jeff Megall (Rob Lowe) é surreal,
conversando sobre Brad Pitt e Catherine Zeta-Jones fazendo
círculos de fumaça após transarem. Assim como a conversa
franca entre Naylor e o cowboy canceroso (Sam Elliott) daquela
marca de cigarros que glamourizava o estilo vaqueiro. O filme
não deixa de surpreender conforme evolui e o roteiro não
descamba, crescendo até seu desenlace moral - mas sem ser
moralista - e contando com um desfecho bastante hilário.
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