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Comportamento É
proibido fumar
...em bares, escritórios, restaurantes, praias
e agora até ao ar livre
Bel Moherdaui
Daniel Ochoa de Olza/AP
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Não pode: no metrô de Madri e em qualquer
lugar fechado da Espanha |
No começo, era coisa de americano.
Os bacanas, os ilustrados, os independentes, todos continuavam a
fumar furiosamente. O passar do tempo mostrou que eram apenas
viciados. Em trinta anos, se tanto, foram monumentais os resultados
da campanha antitabagista que conseguiu mudar hábitos e costumes em
nível planetário. De gesto glamouroso, sexy, decidido, exaltado em
filmes de Hollywood e anunciado com fanfarra em toda parte, o ato de
fumar, uma vez comprovados os danos à saúde de quem fuma e de quem
está por perto, passou a ser coisa execrada, migrando da boca dos
mocinhos e mocinhas para a dos bandidos. Dos Estados Unidos, berço
da guerra ao cigarro, a campanha antifumo ganhou o mundo. Nos
últimos seis meses, novas vitórias foram alcançadas. Escócia,
Uruguai e Espanha colocaram em prática algum tipo de restrição – com
maior ou menor adesão da população. Em 2007, entram em vigor leis
antifumo já aprovadas na Irlanda do Norte, Inglaterra e Porto Rico.
A França, um dos últimos bastiões dos fumantes explícitos, anunciou
que dará início a uma consulta popular sobre a proibição do fumo em
lugares públicos (surpreendente resultado de uma pesquisa de
opinião: 78% dos franceses apóiam a medida, com a aprovação variando
de acordo com o local onde os consultados acham que deve vigorar).
Até a China, onde se fuma um terço de todos os cigarros consumidos
no mundo, está tomando providências para proibir a construção de
novas fábricas de cigarro. Nos Estados Unidos, um sinal claro de que
o proibicionismo total é o futuro enfumaçado que espera os fumantes
foi dado em Calabasas. Nessa cidade de 25 000 habitantes, na (onde
mais?) Califórnia, desde 17 de março é proibido acender um cigarro
em qualquer lugar aberto onde a fumaça possa incomodar outra pessoa,
aí incluídos parques, ruas, a varanda da casa do fumante e seu
próprio carro, se o vidro estiver aberto. "Legitimamos uma
reivindicação que causava muito embaraço: 'Dá para apagar o
cigarro?'. Nós colocamos uma lei por trás dela", explica o prefeito
da cidade, Barry Groveman.
Fotos Lucas Jackson/Reuters
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Reuters
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O prefeito de Calabasas (à
esq.) anuncia: cigarro, nem na varanda da própria casa
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Pelas contas de Groveman, para cada
cidadão contrário ao veto, oito são a favor. Quem descumprir será
primeiro notificado, depois multado, mas neste primeiro mês de
implantação da nova regra ninguém sofreu punição alguma. "No momento
estamos concentrados em educar as pessoas. Esperamos não ter de
multar ninguém, mas lidaremos com as violações caso a caso", disse a
VEJA Michael Hafken, secretário de Comunicação da cidade. Qual a
lógica de proibir o fumo em ambientes abertos? Nenhuma, exceto o
puritanismo americano (bem, é melhor não exagerar na crítica, pois é
possível que sigamos pelo mesmo caminho). "Já está mais do que
provado que a incidência de câncer de pulmão em cônjuge de fumante é
quatro a cinco vezes maior. Mas isso, em ambientes fechados. Não
temos prova de que a fumaça em lugar aberto cause algum mal a quem
estiver por perto", comenta o pneumologista Hélio Romaldini,
professor adjunto da Universidade Federal de São Paulo. Calabasas é
o primeiro caso de banimento do cigarro em uma cidade inteira, mas a
interdição em espaços abertos não é novidade. Já é proibido fumar na
maioria das praias do sul da Califórnia e em algumas da Austrália.
"O mundo acordou para o problema do
tabagismo passivo", comemora Tânia Cavalcante, coordenadora do
Programa Nacional de Controle do Tabagismo do Instituto Nacional de
Câncer do Ministério da Saúde. Acordar, porém, não quer dizer que as
leis não sejam adaptadas às culturas locais. No Brasil, fumar dentro
de shopping centers é proibido desde 1996; até hoje, porém, os
seguranças do Shopping Iguatemi em São Paulo, por exemplo, andam com
cartõezinhos no bolso – que entregam a fumantes explícitos –
informando gentilmente sobre a proibição e indicando os locais onde
o cigarro é permitido. Na Itália, os donos de bares e restaurantes
rebelaram-se abertamente contra a lei antifumo implementada em
janeiro de 2005: avisaram que não iam cumpri-la porque o hábito de
fumar nesse tipo de estabelecimento faz parte da cultura italiana.
São, no entanto, rebeldes de uma causa perdida. Em artigo publicado
na semana passada, o colunista americano William Saletan avaliou que
a guerra contra o fumo está ganha, com folga. Tanto que os guardiões
da moral e dos bons hábitos já partiram para nova empreitada. Seu
alvo: os alimentos gordurosos, que engordam e contribuem para a
obesidade, que caminha para substituir o fumo como a maior causa de
mortes evitáveis nos Estados Unidos. Fãs de hambúrguer com fritas,
preparem-se.
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