Oswaldo Maricato |
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Para não perder o bonde da história no combate ao fumo, o Brasil
precisa ratificar a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (o
tratado internacional que estabelece restrições ao comércio de
cigarros) e depositá-la nas Nações Unidas até 7 de novembro. O
problema é que o projeto aprovado pela Câmara está emperrado no
Senado há um ano, antes mesmo da paralisação geral provocada pela
crise política.
Entidades médicas e organizações antitabagistas resolveram
radicalizar. Lançaram a campanha Dando Nome aos Bois e no dia 28
prometem divulgar a lista dos parlamentares contrários à
ratificação. 'Não podemos aceitar que o lobby escuso da indústria
tabagista vença, enquanto milhões de vidas são destruídas', diz Nise
Yamaguchi, presidente da regional São Paulo da Sociedade Brasileira
de Oncologia Clínica.
RADIOGRAFIA DO
TABACO
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* Estimativa do Departamento
de Agricultura dos Estados
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Nenhum outro vício tem tanto impacto sobre a saúde pública quanto
o tabagismo. A cada hora, 23 brasileiros são mortos pelo cigarro. Em
um ano, as vítimas chegam a 200 mil. Doenças como enfisema (que
provoca falência pulmonar), infarto, derrame e câncer produzem
sofrimento incalculável para as famílias e prejuízo lastimável para
os cofres públicos. É por isso que o governo federal quer a
ratificação da convenção. 'Como o combate ao tabagismo é quase um
consenso universal, estou intuindo que os senadores estejam sofrendo
pressões e, por isso, tratam a questão com morosidade', diz o
ministro da Saúde, Saraiva Felipe.
Em uma audiência pública realizada em Florianópolis, o senador
Jorge Bornhausen (PFL-SC) criticou o governo Lula por não ter ouvido
os fumicultores antes de apoiar a convenção. Procurado por Época, o
senador não quis se manifestar. A Souza Cruz, líder do mercado
nacional de cigarros, também preferiu o silêncio. A empresa
recusou-se a participar na semana passada de um debate sobre
tabagismo planejado pelo Instituto Ethos de Responsabilidade Social.
A principal voz contrária à aprovação da convenção é a da Associação
dos Fumicultores do Brasil. 'O tratado vai trazer conseqüências
econômicas gravíssimas e desemprego aos pequenos produtores que não
podem adotar outras culturas', afirma o diretor-secretário Romeu
Schneider. A questão dos programas de financiamento para estimular a
migração para outras culturas será discutida na primeira reunião das
partes, em fevereiro de 2006. Oitenta e três países já têm assento
garantido, inclusive a China, principal produtor mundial de tabaco.
No ritmo atual, o Brasil ficará de fora.
Divulgação |
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PRESSÃO Em outdoors espalhados
por Brasília, entidades antitabagistas prometem revelar no dia
28 os nomes dos senadores a favor do
tabaco |
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