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Estudo mostra
lobby da indústria do tabaco no
País
Documento
aponta que empresas tentaram influenciar mídia e associação de
bares, além de pagar pesquisa
Teste seu vício em nicotina
Lisandra
Paraguassú, Brasília
Um relatório
divulgado ontem pela Organização Pan-americana de Saúde (Opas)
mostra que as principais fábricas de cigarros que atuam no
Brasil tentaram influenciar empresas jornalísticas e
associações de bares e restaurantes, financiaram pesquisas e
patrocinaram campanhas por “liberdade de escolha” e
convivência “harmoniosa” entre fumantes e não-fumantes. Hoje é
celebrado o Dia Mundial sem Tabaco.
O relatório tem
como base documentos das próprias empresas, tornados públicos
nos Estados Unidos e no Canadá depois de ações judiciais
naqueles países, sedes das empresas. Mostra que a indústria
tentou conter o avanço da legislação que bania o fumo em
locais públicos e evitar que o Brasil assinasse a
Convenção-Quadro sobre Controle do Tabaco da Organização
Mundial de Saúde.
Os documentos vão até 2004, e o
relatório é a primeira fase do trabalho de análise do material
feito pela Opas. A intenção é aprofundar cada ponto em
relatórios subseqüentes. Nesse primeiro, a organização mostra
que as indústrias começaram atacando a idéia de que o tabaco
causava dependência, como outras drogas. Depois, a de que o
fumo passivo também causava doenças como câncer.
Um
dos maiores investimentos no Brasil foi em programas de
convivência entre fumantes e não-fumantes. Quando o governo
brasileiro adotou legislação que estabelecia áreas para
não-fumantes em ambientes fechados, ela foi vista como uma
vitória pela indústria. Segundo o relatório, as fabricantes de
cigarros trabalharam de perto com associações de bares e
restaurantes - seus profissionais chegaram a usar cartões de
visitas das associações - em defesa de leis menos restritivas.
Além do marketing agressivo, com patrocínio de eventos
culturais e esportivos, a indústria investiu em seminários com
jornalistas. Os encontros, um deles realizado em Miami,
juntavam diretores das empresas com especialistas e
pesquisadores patrocinados pela indústria.
Em um dos
relatórios, representantes das indústrias comemoram os
resultados: “Cada gerente da British American Tobacco (dona da
Souza Cruz no Brasil) reforçou a alta qualidade do seminário e
os resultados positivos na mídia, com especial ênfase naqueles
que, antes de participarem, tinham posições fortemente contra
o tabaco.” A estratégia teria sido tão bem-sucedida que os
representantes da BAT teriam sugerido repetição em outras
regiões do mundo.
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