R$ 300 mi por mês em São Paulo São 300 mil máquinas caça-níqueis no Estado MARCELO GODOY e ALEXSSANDER SOARES A máfia dos caça-níqueis movimenta R$ 300 milhões por mês em São Paulo. Levantamento feito pela polícia mostra que existem 300 mil máquinas espalhadas por bingos, bares, lanchonetes, padarias e lotéricas de todos os municípios do Estado. Quarenta empresas estão por trás do negócio, a maioria delas ligada a donos de bingos ou a antigos bicheiros. O levantamento é resultado de uma semana de trabalho da Operação Caça-Níquel, deflagrada pela Polícia Civil na semana passada com a apreensão de máquinas. 'As empresas estão identificadas, e a maioria dos empresários, também', afirmou o delegado Aldo Galiano Junior, diretor do Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap). Por enquanto, cerca de 10 mil caça-níqueis foram apreendidos no Estado e duas fábricas das máquinas foram fechadas na Capital. Entre as descobertas da polícia está o lugar onde era programada a probabilidade de os apostadores ganharem. A maioria saía com apenas 10% de chance de o jogador ganhar. A polícia sabe que a maioria dos componentes não é contrabandeada, mas feita no Brasil, com exceção dos leitores de notas. Trazidos do Paraguai, são adaptados para reconhecer notas de reais, pois são produzidos para receber dólares e euros. 'Nosso inquérito apura contrabando, estelionato, crime contra a economia popular e formação de quadrilha', disse o delegado. 'Apreender máquina é enxugar gelo.' Segundo Galiano, os contratos que os donos das máquinas fazem com os comerciantes são fajutos. Como donos dos caça-níqueis aparecem laranjas e empresas com CNPJ inativo. 'Não se chega a lugar nenhum por esse caminho.' Cada máquina arrecada no mínimo R$ 1 mil por mês na Grande São Paulo, onde muitos bares e padarias têm mais de um caça-níquel. 'Se você tem quatro máquinas num bar, consegue R$ 1 mil de lucro limpo no final do mês', disse um maquineiro que atua na Zona Leste, em Carapicuíba e Osasco. Com o dinheiro ganho, maquineiros pagavam propinas a funcionários públicos e policiais, alguns dos quais se tornaram sócios na exploração dos caça-níqueis. Na Zona Norte, um conflito entre policiais e o então maior bicheiro da região, Francisco Plumari Junior, o Chico da Ronda, estaria por trás da execução do contraventor, em 2003. Além de Chico da Ronda, outro conhecido bicheiro foi apontado como envolvido com os caça-níqueis, principalmente no Centro, no bairro da Lapa e no Ceasa, na Zona Oeste. Trata-se de Ivo Noal, o maior explorador de jogos de azar do Estado. O negócio envolve ainda empresários, como os irmãos Johnny e Alejandro Ortiz - cujas ligações com a Banda Magliana, de Roma, foram apuradas pela Operação Malocchio (Mau-Olhado), da Diretoria Antimáfia da Itália. Além das liminares dadas aos caça-níqueis, um outro esquema, segundo maquineiros, garantia ao setor funcionar sem ser perturbado. 'Se não pagar o recolhe, não funciona.' Seria do recolhe que sairia a propina para policiais, acerto pago por mês ou por semana. EM NÚMEROS R$ 1 mil 10% Fonte: Jornal da Tarde em 22-04-2007 |