Comércio livre de caça-níquel em SP

Máquinas podem ser montadas por R$ 1.500

ALEXSSANDER SOARES, geral@jt.com.br

Por R$ 1.500 é possível comprar as peças e montar uma máquina de caça-níqueis em São Paulo - além de programá-la para dar lucros de 60%, 65%. Se o interessado quiser, pode adquiri-la já montada. Desembolsará por isso um valor um pouco maior: R$ 2.100. E nem adianta pechinchar. Vendedores vão logo avisando que só fazem desconto para compras de, no mínimo, dez máquinas ou kits de montagem.

A reportagem circulou pelo mercado dos caça-níqueis nas últimas três semanas. E descobriu que a facilidade de se conseguir as máquinas e a falta de controle por parte das autoridades servem para estimular cada vez mais proprietários de bares, lanchonetes e padarias a tê-las em seus estabelecimentos, apesar de serem proibidas por lei estadual e terem sua exploração enquadrada como contravenção penal.

Segundo estimativa do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado de São Paulo, 60% dos 350 mil estabelecimentos associados têm caça-níqueis. "A metade dos bares e lanchonetes atualmente depende deles para pagar aluguel e salário dos funcionários", afirma o presidente do sindicato, Nelson de Abreu Pinto.

Comerciantes contam que o investimento feito na compra do kit montagem ou da máquina já montada é recuperado em, no máximo, três meses. O tempo varia de acordo com a programação feita na máquina para os lucros. É possível, por exemplo, acertá-la para ficar com mais da metade do dinheiro colocado pelos apostadores. "Garanto que minha máquina te dá R$ 650 de cada R$ 1.000 apostados", diz um 'maquineiro' (aquele que vende o equipamento completo) conhecido como Carlos, imaginando conversar com um comerciante interessado no negócio. Carlos cobra R$ 2.100 pelo aparelho instalado. E avisa: "Dou três meses de garantia e o dinheiro é todo seu. A máquina não paga bônus (prêmio) para um dinheiro que não entrou. Tudo no jogo é programado. Mas depois de receber a máquina, você se vira. Eu não sei de nada."

Como o comprador arca com os riscos de furto ou roubo - já que não podem ir à polícia -, os precavidos pagam até R$ 35 por uma "máscara de ferro", barra de ferro instalada ao redor do caixa da máquina. O comerciante também pode optar por ceder espaço para o maquineiro instalar máquinas próprias, prática comum na Capital. Aí, 40% do lucro líquido fica com o dono do comércio e 60% vai para o maquineiro.

Quando se opta pelo kit montagem, o processo é um pouco mais demorado. Por telefone, é possível fazer cotação de preços. Separadas, as peças são meros componentes de computadores usados. Montadas e embaladas adequadamente, transformam-se nos caça-níqueis. A Capital é exportadora de peças, como gabinetes de madeira compensada.

Há ainda as vendas pela internet. Ao digitar "placa Halloween" em qualquer site de busca, é possível ler várias propostas de venda, com entrega para todo o País.

O diretor jurídico do sindicato de bares, José Francisco Vidotto, ligado ao deputado estadual Campos Machado (PTB), prepara esboço de projeto de lei para ser levado ao parlamentar, sugerindo criação de espaços para jogos nos estabelecimentos comerciais. Está ainda em análise no Supremo Tribunal Federal ação direta de inconstitucionalidade que pode derrubar a lei paulista sancionada em janeiro pelo governador José Serra (PSDB), proibindo máquinas no Estado.

Fonte: Jornal da Tarde em 26-03-2007.