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Notícias edição impressa - Artigo |
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05/05/2007 |
Cachaça não é água, não! |
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Sandro B. André |
Cachaça não é água, não! A bebida e o cigarro tiram o
dinheiro do leite e do pão das famílias mais pobres e ajudam a
aumentar a miséria. Isso não é nenhuma novidade, mas o fato é
que muito se fez nos últimos anos para combater o cigarro. Já
a bebida continua com moral elevada no Brasil, país das
desigualdades e das hipocrisias: aqueles que criticam a
inércia do governo em relação à fome, na mesa de um bar, são
os primeiros a atender os apelos (e que apelos!) da propaganda
de cerveja. Não sou contra a liberdade de beber, assim como
todos têm liberdade para fumar. Recriar a Lei Seca seria bom
para os traficantes, e só. Mas está na hora de começar uma
campanha que mostre os efeitos nefastos do álcool, exatamente
como se fez com o cigarro. Estampar cidadãos com cirrose
terminal nas garrafas de pinga poderia ser um bom começo.
Melhor do que escrever ‘beba com moderação’, frase que
já virou motivo de piada nos comerciais de TV. Tem marca de
cerveja que aconselha a ‘degustar com parcimônia!’ O
importante é degustar, com ou sem parcimônia, sob as benesses
da lei.
Não é preciso fazer muitas contas para chegar à
conclusão de que a bebida não é ruim apenas para os mais
pobres. O conhecido ‘rombo’ da Previdência seria menor, se não
houvesse tantos pagamentos de pensão por morte e invalidez no
trânsito, motivados por motoristas embriagados. Também não
haveria tantos acidentes de trabalho na construção civil e em
outras atividades de risco, envolvendo alcoólicos.
Da
mesma forma, o número de homicídios por motivos fúteis (a
popular ‘briga de bar’) cairia. Espancamentos domésticos
também poderiam diminuir. Mas no país que criou a ‘Lei de
Gérson’, parece ser muito mais fácil criticar ou fazer piada
na beira do balcão: afinal de contas, o que é que nós temos
com isso, não é verdade? Muita gente só lembra da tragédia que
representa a bebida quando vê um filho morrer inocente no
trânsito. Ou quando sabe que aquele parente ou amigo está com
os dias contados por causa do alcoolismo. Ou vê uma pessoa
querida numa cadeira de rodas ou na cama de um hospital, sem
esperanças, por causa daquele bêbado que continua dirigindo
por aí, impune! Chegou a hora das pessoas de bem fazerem
alguma coisa. Aqui dou a minha sugestão: criar um movimento
nacional, com assinaturas por todo o país, exigindo o fim da
propaganda impune das bebidas alcoólicas.
Os veículos
de comunicação não vão deixar de existir se cortarem a verba
publicitária da cerveja, da vodka ou da aguardente. O caso é
que cortaram a propaganda do cigarro, quebrando os interesses
de multinacionais bilionárias, e milhões de pessoas deixaram
de morrer de câncer! Entendo que o primeiro passo deve ser a
proibição da propaganda de bebidas alcoólicas em espaços
públicos e nos meios de comunicação, assim como acontece com o
cigarro. Junto a isso, a proibição da venda de bebidas em
postos de gasolina e locais frequentados por menores de 18
anos, como shows destinados a adolescentes. As bebidas
continuariam sendo vendidas nos bares, mas sem propaganda. Os
rótulos das garrafas, por sua vez, estampariam fotos com
mensagens de alerta, exatamente como acontece com o cigarro.
Quem trabalha no dia-a-dia com dependentes químicos sabe muito
bem que a bebida é uma droga bastante poderosa, e que se torna
ainda mais forte por ser socialmente aceita, sem contestação.
Falta informação para a população em geral sobre o que é o
alcoolismo e muitos duvidam que se trate de uma doença, dado o
preconceito arraigado na mente das pessoas.
A equação
é simples: a bebida gera empregos e impostos, mas cobra em
troca uma fatura impagável, representada por milhões de mortes
anônimas e bilhões de reais em prejuízos para a sociedade
brasileira. Alguns grupos de empresas, como seguradoras de
automóveis e administradoras de planos de saúde, só para citar
dois exemplos, já deveriam ter-se dado conta disso, pois pagam
a conta da bebida.
Mas quem paga mais caro continuam
sendo aqueles que não têm como se defender: as famílias
envolvidas nas tragédias e as crianças pobres e miseráveis,
filhas de pais dependentes do álcool.
Sandro B.
André Jornalista e colaborador de O Regional
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