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30 de dezembro de 2003 - 14h54


Domingo, 5 de outubro de 2003

Jovem é o alvo dos charutos brasileiros
Com produto mais barato e suave, indústria baiana quer transformar o hábito em lucro
CARLOS FRANCO

A baiana Maria Antônia Barbosa, de 45 anos, há 24 enrola charutos na fábrica da Menendez & Amerino, em São Gonçalo dos Campos, a 100 quilômetros de Salvador. Ela leva duas horas para enrolar um charuto, preparando o miolo e o encapando - a parte mais nobre do ofício e também a mais prazerosa e rápida (10 minutos) porque, encerrada, o charuto está pronto. Na fábrica, são cerca de 100 mulheres de um total de 150 funcionários. Cada charuto, ensina Maria, é uma peça única, mesmo que metade do miolo, cortado, dê origem a outro. A diferença está na capa, porque as abas das folhas nunca são iguais e um é enrolado com a aba esquerda e outro com a direita.

Na última terça-feira, no bar e restaurante Azucar, no Itaim Bibi, na zona sul paulistana, Maria perdeu a conta de quantos charutos encapou (os miolos ela trouxe prontos). Todos da marca Aquarius, a aposta do empresário Félix Menendez, de 59 anos, uma das abas da Menendez & Amerino, para atrair os jovens. A outra aba é o empresário Mário Amerino Portugal, de quem a família comprava fumo baiano quando migrou e decidiu produzir charutos nas espanholas ilhas Canárias, antes de aportarem no Brasil em 1977.

Menendez explica que, ao contrário de outras marcas da empresa como Dona Flor e Alonso Menendez, o Aquarius tem duas armas para conquistar os jovens:

o preço médio de R$ 6,00 a unidade e a suavidade do fumo baiano Mata Fina, ideal para quem não suportaria sabores mais encorpados.

No Brasil, acredita Menendez, o consumo de charutos premium, que têm formato internacional e são feitos artesanalmente, é hoje da ordem de 10 milhões de unidades por ano, incluindo os importados, especialmente os cubanos. Um consumo correspondente a 3 milhões de charutos por ano, relativamente pequeno, reconhece o empresário, diante dos 60 milhões de unidades do início do século 20, quando o cigarro, produzido industrialmente, ainda não havia conquistado a maior fatia do mercado.

Da base do consumo, brinca Menendez, o charuto pulou para o topo. 'É um produto absolutamente natural, sem química nenhuma - apenas com folhas enroladas. Enfim, uma obra de arte natural". A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não o vê dessa forma e o charuto enfrenta as mesmas restrições que o cigarro. "Hoje, torcemos para que alguma personalidade apareça fumando charuto em público", diz Menendez, que tem esperança de ver Lula trocando o produto cubano pelo nacional, baiano.

Com faturamento de R$ 9 milhões no ano passado, a Menendez & Amerino está investindo este ano R$ 1,6 milhão em novos produtos e na abertura de mercados. "Temos que conquistar novos usuários para garantir o futuro da empresa", diz Menendez, que exporta 25% dos charutos produzidos na Bahia e 95% do fumo que compra de 300 produtores baianos. Hoje, a Dannemann dedica-se praticamente à exportação do fumo em folhas baiano e tem produção modesta. Já a Suerdick, também de imigrantes alemães que a criaram em meados do século 19, em Cachoeira (BA), cerrou as portas há três anos e pôs a marca à venda. A própria Menendez & Amerino chega a vender ao exterior 95% do fumo que compra de 300 produtores. É com 5% que produz os charutos e, em outra fábrica, toda mecanizada e com 150 funcionários, as cigarrilhas Gabriela e Saint James, esta última sob licença da Souza Cruz.

Menendez, cuja família, antes da revolução cubana, em 1959, controlava a Menendez Garcia & Cia, fabricante das marcas Montecristo e H. Upmann, ensina: "Charutos nunca devem ser tragados. Nem devem ser mergulhados em licores ou conhaques, porque isso estragaria tanto a bebida como o fumo".

A Cubalse, importadora que divide com a Puro Cigar, o abastecimento do mercado brasileiro com charutos cubanos, também se esforça para trazer jovens ao mundo dos charutos. Seu controlador, Arnaldo Ramos Júnior, que fornece os vendidos em tabacarias paulistanas como a Ranieri Pipes, Tabacaria Reis e Epicur, diz que hoje são consumidos mensalmente cerca de 250 mil charutos cubanos no País. "O mercado só vai crescer com novos consumidores." Menendez promete fazer sua parte com Aquarius e, quem sabe, depois, seduzi-los com Dona Flor.





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