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Saúde Em doses menores
Terapeutas recomendam combater a
dependência química reduzindo aos poucos o consumo
Érica Chaves
Fabiano Accorsi
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Vichi: "Quando parava de fumar de repente, a
vontade de voltar era incontrolável" |
Os médicos e psiquiatras que cuidam
de dependentes químicos costumam iniciar o tratamento com uma
determinação – interromper o mais rápido possível o consumo da
substância na qual o paciente é viciado. Essa é também a orientação
nas entidades como os Alcoólicos Anônimos e os Narcóticos Anônimos.
A partir daí, o desafio é combater os sintomas da abstinência com
remédios ou terapias até que o paciente se veja livre do hábito. Mas
muitos terapeutas desafiam essa forma clássica de combate à
dependência. Segundo eles, a diminuição progressiva do uso da
substância, em vez de sua interrupção súbita, pode resultar num
tratamento mais eficiente e garantir maiores probabilidades de cura.
Uma das mais amplas pesquisas já feitas nos Estados Unidos sobre o
alcoolismo, divulgada na semana passada, ajuda a corroborar essa
tese. No estudo, realizado por um grupo de psiquiatras da
Universidade Columbia, 1.400 alcoólatras foram submetidos durante
quatro meses a acompanhamento médico para combater o vício com base
na estratégia da redução progressiva. Ao final, 75% deles tiveram
resultados positivos. Parte do grupo abandonou a bebida. Outra parte
reduziu seu consumo a uma ou duas doses por dia.
A tese da redução progressiva é
controvertida. Alega-se que o viciado, por definição, é incapaz de
controlar o consumo da substância que o escraviza. Considerar uma
vitória que um alcoólatra se limite a duas doses diárias, segundo
esse raciocínio, seria deixar a porta aberta para que ele volte a
abusar da bebida. Os defensores do tratamento à base da moderação
pensam de modo diferente. Eles argumentam que, de fato, há viciados
que precisam interromper radicalmente o consumo de álcool, sob risco
de morrer. Para outros, no entanto, a bebida é tão arraigada em seu
cotidiano que eliminá-la por completo acarretaria outros problemas
psicológicos, criando "buracos" na vida difíceis de preencher. Quem
tem o hábito de beber com amigos no bar, por exemplo, se veria
privado de um grande prazer. É um tipo de dependente a quem se
recomenda cultivar a moderação, e não a abstinência radical. "A
maioria dos casos de desistência do tratamento ocorre pela decepção
do paciente com a própria recaída. A abstinência total é um fator de
angústia constante", diz a psicóloga Maria Vilma de Faria, do Centro
Mineiro de Toxicomania.
Os adeptos da redução progressiva
defendem que ela seja aplicada no combate a todo tipo de vício –
álcool, tabaco, drogas ou medicamentos. O professor de química
Flávio Vichi, da Universidade de São Paulo, parou de fumar há um ano
com um tratamento desse tipo, realizado com acompanhamento médico.
Ele fumava desde os 14 anos e já tinha feito nove tentativas bruscas
de interromper o hábito. O tratamento durou dois meses, tempo em que
diminuiu o número de cigarros diários até conseguir substituí-los
completamente pelo adesivo de nicotina, que usou por poucas semanas.
"Hoje, já consigo sentir o cheiro dos produtos químicos com os quais
lido", comemora. "Quando parava de fumar de repente, a vontade de
voltar era incontrolável."
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