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Cigarro e juros
bancários
celso.ming@grupoestado.com.br
Ao longo do século
20, a indústria tabagista tentou convencer o mundo de que o
cigarro não faz mal à saúde. Depois da perda de muito
dinheiro, acabou por se render às evidências.
O bancos
no Brasil têm algo que lembra a indústria de cigarros. Sempre
tentam explicar por que cobram juros tão altos, mas não
convencem ninguém. Um dia serão obrigados a se render às
evidências.
A criação do crédito consignado (empréstimo
para desconto direto na folha de salários) ajudou a derrubar o
custo do crédito. Mas há muito a fazer. O ministro da Fazenda,
Guido Mantega, está anunciando estudos para derrubar o spread
(diferença entre custo de captação e juros cobrados ao tomador
de empréstimos) e, assim, ajudar a reduzir o custo de produção
para as empresas brasileiras.
Em grande parte, o
problema decorre da oligopolização do setor. Como está na
tabela, ao final de 1994, os cinco maiores bancos detinham
45,2% dos ativos. Dez anos depois, já eram 61,0% e, no ano
passado, 61,2%.
Porque dominam o mercado, acabam por
cobrar o que querem. Uma política de redução do spread não
pode fugir de uma política de aumento da concorrência. Há
providências administrativas que podem reverter a situação.
Algumas delas já foram antecipadas pelo ministro Mantega.
Confira:
Doc reverso - É o mecanismo pelo qual qualquer
cliente pode autorizar um banco a retirar de conta corrente
(ou de aplicação financeira) em outro banco um certo volume de
recursos. Isso é diferente do Doc convencional porque este
consiste na transferência que um cliente faz para a conta de
outra pessoa.
Salário em qualquer banco - Hoje, o
empregador exige que o salário dos seus funcionários seja
feito no banco com o qual tem acordo. Quando puder determinar
a conta bancária onde receber o salário, o poder de barganha
do funcionário crescerá. Isso deve começar pelos salários dos
funcionários públicos que não precisarão ser depositados no
Banco do Brasil ou em outra instituição
estatal.
Cadastro positivo - Os bancos cobram os mesmos
juros em cada modalidade de empréstimo, qualquer que seja o
cliente. Não faz sentido que o bom pagador tenha de pagar mais
para ajudar a cobrir a inadimplência dos outros. É preciso que
o banco trabalhe como as seguradoras. Se não há sinistro no
histórico do cliente, não há razão para ele pagar mais pela
cobertura.
Incentivo a empréstimos - Para derrubar o
spread, os bancos pedem redução do depósito compulsório, o
dinheiro dos depositantes a ser recolhido ao Banco Central.
Inadimplência e juros altos são gema e clara do mesmo ovo: o
juro é tão alto que a prestação não cabe no salário do tomador
de empréstimos. Que tal começar por reduzir o compulsório para
os bancos que mais emprestarem para pequenas e médias empresas
ou, então, para os que atingirem baixos graus de
inadimplência?
Isenção de CPMF - Não haverá aumento da
competição no mercado se o cliente não puder mudar de banco.
Isso pressupõe isenção de cobrança de CPMF, um dos
obstáculos.
Advertência: Cobrar juros escorchantes faz
mal à saúde econômica do País.
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