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Montagem sobre fotos: Guilherme Pinto/Ag. O Globo e Paulo Araújo/Ag. O Dia  
Em família: para operar máquinas, Rogério (à esq.) e Fernando
comandam cerca de 80 policiais,
que deveriam servir à lei
 

Criminalidade
A guerra dos
caça-níqueis
Briga entre herdeiros de Castor
de Andrade provoca mais de 30
mortes no Rio de Janeiro
Por Francisco Alves Filho

Mais de 30 homicídios, uma série de atentados, vários policiais presos ou indiciados por cumplicidade com criminosos. Esses são os lances da guerra entre dois grupos que se desenrola nas ruas da zona oeste do Rio de Janeiro pelo controle das máquinas caça-níqueis. A disputa acontece principalmente no quartel-general do jogo do bicho carioca, o bairro de Bangu, onde o falecido capo Castor de Andrade deixou a dois herdeiros o seu espólio. De um lado, está o sobrinho Rogério Andrade e do outro o genro Fernando Ignácio. Em 1997, Castor determinou que Rogério trataria dos pontos de bicho, enquanto Fernando cuidaria dos caça-níqueis. Com a derrocada do jogo do bicho, o sobrinho resolveu em 2001 explorar as maquininhas. Desde então a guerra explodiu. Os últimos meses foram os mais violentos e os assassinatos se multiplicam. No caso mais recente, o policial civil aposentado Clair de Oliveira, que era investigado por envolvimento com os contraventores, foi morto a tiros por dois homens que estavam numa motocicleta. No mês passado, cinco pessoas foram assassinadas.

“Uma das principais dificuldades de investigar a máfia dos caça-níqueis é o grande número de policiais envolvidos”, avalia o delegado Milton Olivier, da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado. “Há muitos casos de vazamento de informação sobre as nossas operações.” Há uma semana, Olivier concluiu o inquérito em que indiciou 29 pessoas por formação de quadrilha. Entre elas Fernando Ignácio, Rogério Andrade e Renato Andrade, seu sócio. O inquérito foi encaminhado ao Ministério Público Estadual, onde há outros sete inquéritos sobre o mesmo assunto. Além de responder por formação de quadrilha, Rogério foi condenado em 2000 pelo assassinato do primo, Paulinho Andrade, filho de Castor, ocorrido dois anos antes. Rogério está foragido. O delegado Olivier não se arrisca a estimar o número de máquinas pertencentes a cada lado, já que eles são responsáveis por caça-níqueis instalados até mesmo em outros Estados, mas desde o início da guerra já saíram de circulação mais de 800 delas, entre destruídas e apreendidas. O delegado também prefere não estimar o número de capangas dos dois grupos, mas fontes da Secretaria de Segurança avaliam que Rogério e Fernando têm sob seu comando pelo menos 86 agentes que deveriam estar do lado da lei.

A ligação dos contraventores com a máfia italiana está sendo investigada e também a lavagem de dinheiro por intermédio de empresas fantasmas uruguaias, entre elas a Rhondda Sociedad Anonima, denunciada por ISTOÉ. Em março, o delegado Olivier apreendeu numa empresa ligada a Rogério vários caça-níqueis desmontados, com manuais redigidos em espanhol.