Entrevista nº 1.

A AMATA agradece e parabeniza o Dr. Renato Captzan por haver inestimavelmente atendido o pedido de entrevista do Presidente da AMATA, e prestado os importantes esclarecimentos a respeito dos efeitos da abstinência do cigarro em seu organismo ao tentar parar de fumar.

Cirurgião buco-maxilo-facial e Professor de Implantodontia, Renato Captzan atua na área da odontologia desde 1978. Fumante desde os doze anos, vem tentando largar o produto há aproximadamente dez anos, sem sucesso. Recentemente, há cerca de três meses, incentivado por seus pacientes, fez mais uma tentativa, dificultada, no entanto, por causa de sua profissão, em razão da ansiedade e da perda da firmeza nas mãos, o que o obriga a fumar ao menos um cigarro antes da primeira cirurgia do dia.

AMATA – Dr. Renato, por gentileza, permita-nos irmos direto ao assunto: quando o senhor me ofereceu um copo de café, com as mãos trêmulas, meia hora antes da minha cirurgia, foi para me demonstrar a veracidade da perda da firmeza das mãos pela abstinência do cigarro?

R. C. – Sim. Percebi, apesar da sua boa vontade em se oferecer para que eu o operasse sentindo a abstinência do cigarro, sua falta de noção do efeito que a ausência do produto fazia e ainda faz no meu organismo. Embora, após uma redução gradativa de três meses, fumando, com algumas exceções, apenas cinco cigarros diários, um deles anterior à primeira cirurgia do dia, não posso ainda, por responsabilidade profissional, me dar ao luxo de prescindir de algumas tragadas antes de iniciar meu trabalho. Para ser sincero, não sei se o conseguirei tão breve. Perco mesmo a firmeza das mãos. Mas estou, com os incentivos recebidos, me preparando para largar os poucos cigarros diários atuais.

AMATAMas quem fuma cinco cigarros por dia está muito próximo de não fumar nenhum. Por que então não parar de uma vez?

R. C. – A questão não é tão simples. Há noites que simplesmente não consigo dormir sem fumar mais um cigarro. O cigarro possui um efeito no fumante insubstituível por qualquer outro produto. É como se fosse um “remédio” milagroso para acabar com a ansiedade de quem sofre da sua abstinência. E não é fácil deixar o cigarro dos momentos esperados. Na verdade, chegada a abstinência, o cigarro dá um grande “prazer”, embora fabricado. Você se sente escravo do produto, ele te vence pelo cansaço, mas ao menos você acaba com a ansiedade física e mental da falta dele. O cigarro, contudo, acaba com a saúde do fumante. Estou redescobrindo a vida. O sabor dos alimentos, o prazer de poder conversar sem aquele bafo de fumaça.

AMATA O senhor pretende entrar na Justiça em razão dos problemas que enfrenta com a dependência, em especial em sua atividade profissional?

R. C. – O Judiciário, com todo o respeito, é muito caro. É necessário antecipar custas processuais e contratar um advogado, e as decisões são muito demoradas. Já tive experiência anterior com um banco, embora com resultado positivo, mas depois de longos seis anos. Em relação ao cigarro, não sei como me deixei influenciar: mulheres bonitas, carrões, tudo isso me levou ao tabagismo na meninice. De fato, creio que a atitude da indústria do fumo não difere muito, guardadas as devidas proporções por ser uma droga lícita, do comércio das drogas. Também faço um trabalho voluntário com crianças drogadas. Num caso simbólico, acompanhei a evolução do processo de dependência de uma menina de doze anos, bonita, de família, que ia fazer sexo com quem o traficante indicasse por causa da droga. Com o cigarro, guardadas uma vez mais as devidas proporções, sinto que acontece algo assemelhado. Quando percebi, por exemplo, que minha filha estava fumando, passei a lhe financiar o consumo para evitar que fosse buscar cigarros aí fora. Acabei, a contra-gosto, instalando-lhe o hábito, ou melhor, o vício de fumar – acredito que seja esse o termo correto para o caso. Gostaria apenas de conseguir parar de fumar sem dificuldade e auxiliar uma ou outra pessoa próxima a tanto.

AMATAMuito agradecido.

Agosto de 2006.