Entrevista nº 3

A AMATA agradece ao Sr. Nahor de Aquino, empresário em São Paulo, pela inestimável entrevista concedida sobre detalhes relativos a uma fatalidade familiar ocorrida em virtude de fato relacionado a outro produto potencialmente nocivo: a bebida alcoólica.

Empresário em São Paulo, Nahor de Aquino brinda os amigos da Saúde Pública concedendo uma entrevista sobre detalhes relativos a uma fatalidade familiar ocorrida em virtude de fato relacionado a outro produto potencialmente nocivo, cuja liberalidade é utilizada como justificativa pelos exploradores do tabaco: a bebida alcoólica. Perdeu sua tia, uma segunda mãe, vítima de atropelamento de veículo dirigido por motorista embriagado, como comprovou o devido processo criminal transitado em julgado...

AMATA (por seu Presidente) Sr. Nahor, Os detratores da Saúde Pública costumam justificar a comercialização dos seus produtos sob a alegação da existência de outros males na sociedade. Um deles é a comercialização da bebida alcoólica. Seria possível contar-nos qual a experiência de sua família em relação à bebida alcoólica?

N. A. – Minha tia, uma segunda mãe para mim, faleceu vítima de atropelamento de veículo dirigido por motorista embriagado, como comprovou o devido processo criminal transitado em julgado condenando o autor da infração em 6 meses de suspensão da carteira de motorista, e uma pequena indenização.

AMATA Com todo o respeito aos Poderes constituídos, a pena reparou o dano?

N. A. – Com efeito, nenhuma condenação tem o condão de trazer a vida novamente. Quanto à pequena indenização, preferimos não ficar com esse dinheiro, e o direcionamos a uma instituição de caridade.

AMATAA indústria da bebida alcoólica participou do processo?

N. A. – Não.

AMATAEm sua opinião, há alguma parcela de responsabilidade por parte da indústria da bebida alcoólica nos acidentes de trânsito causados por direção embriagada? E dos meios de comunicação que estimulam essa ingestão? E do Governo que permite tudo isso?

N. A.A questão é muito delicada e complexa. Mas só quem passa por essa experiência conhece o seu significado. De fato, a partir do momento em que existe propaganda estimulando o consumo de bebida alcoólica, parece lógico que também haja uma parcela de responsabilidade de quem a faça ou a permite, pois o incentivo ou estímulo ao consumo do produto é a causa primária do futuro evento danoso.

AMATAO senhor sabia que existe um projeto de lei complementar já aprovado pela Câmara dos Deputados há mais de 5 anos, paralisado no Senado, para proibir a propaganda de qualquer tipo de bebida alcoólica até as 21 horas em rádio e televisão (PLC nº 35/2000), e um abaixo-assinado, do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, já superando quinhentas mil assinaturas, para se proibir a propaganda de qualquer bebida alcoólica na televisão, já que uma garrafa de cerveja embriaga tanto quanto duas doses de cachaça.

N. A.Não sabia. Acho boas as iniciativas.

AMATAA tentativa de se criar um mito nos jovens de que bebida alcoólica é um "desinibidor" não lhe parece um crime praticado pelas cervejarias e publicitários, com a conivência do Estado? Não lhe parece que a vida, bem indisponível na nossa Constituição, não deveria ser colocada em risco em virtude de uma atividade plenamente supérflua?

N. A.O assunto é muito sério, e não tenho autoridade para falar sobre ele. Espero apenas haver contribuído com o debate, e concordo que nada justifica aumentar o risco de pessoas inocentes perderem a vida em razão de atividades que não sejam necessárias na sociedade.

AMATAMuito agradecido.

Dezembro de 2006