Sobre o fumo

Levado da América do Norte, onde era consumido pelas tribos indígenas, à Europa pela esquadra de Cristóvão Colombo, o tabaco se difundiu no velho continente a partir da península ibérica.

Rezam as tradições que em 1560 o embaixador francês em Lisboa, Jean Nicot, enviou à rainha Catarina de Médicis as primeiras remessas do vegetal, que julgava ser uma erva dotada de propriedades terapêuticas. A rainha patrocinou a difusão do fumo como medicamento, utilizando-o em pomadas, xaropes, infusões, banhos, etc. Porém, relata-se que desses usos surgiram envenenamentos, intoxicações e mortes. Vingou até os dias atuais, contudo, o consumo através da inalação da fumaça resultante da combustão do produto, como o faziam os índios, e, em algumas regiões, como na Suécia, por meio da forma mascada.

A história dessa primeira grande difusão não é, contudo, absoluta, havendo quem indigite que a planta, fumada em palha de milho ou palmeira pelos índios tupinambás, já havia sido remetida diretamente do Brasil à França em 1555 pelo franciscano André Thevet, frade capelão da primeira expedição francesa ao Brasil, chefiada por Cologny, tendo os partidários de Thevet contestado o verbete “nicotiana” atribuído à planta em 1584 pelo dicionário francês-latin de Etienne e Thiery. O autor da primeira classificação cientifica dos vegetais, Linneu, contudo, ratificou definitivamente o nome do produto, em 1737, batizando o vegetal de Nicotiana tabacum.

Não fosse a atribuição da nomenclatura da planta ao idealista Nicot, o alcalóide nicotina bem poderia nos dias de hoje ser conhecido como tevetina.

O fato é que os primeiros usuários europeus do tabaco aprenderam rapidamente o que os índios da América já sabiam há muito tempo: desde que se começasse, era impossível parar sem sentir um grande mal-estar e uma imperiosa necessidade de retomar o hábito.

Com efeito, o renomado médico brasileiro, Dr. Dráuzio Varela, foi claríssimo ao aquilatar, mesmo 26 anos depois de parar de fumar por 19 anos, após dizer haver despertado de um sonho no qual acendia um cigarro e enchia os pulmões de fumaça, que “a nicotina é uma cascavel adormecida nas vísceras do ex-fumante, pronta para acordar e dar o bote ao primeiro contato com ela. Sinto que bastaria uma tragada para ir à padaria atrás de um maço”.

A popularização deveu-se à propaganda. A título de exemplo, quando do lançamento do filme publicitário Joe Camel, nos Estados Unidos, em 1987, o número de adolescentes fumantes naquele país era de 0,34%. Um ano e meio depois, esse percentual havia chegado a 37% .

Suserano da vontade daqueles que o consomem, temido por aqueles que largaram o seu vício, abominado por tantos outros que viram familiares e amigos perderem a saúde ou a vida pelo seu consumo, o tabaco bem se resume como um dos produtos mais polêmicos da história da humanidade.

29/08/2006.