26/03/2018 -
DCI - O silêncio sobre a doença do alcoolismo. A imprensa publicou recentemente a notícia de um novo Refis, programa federal de parcelamento de débitos tributários, e os maiores beneficiários foram os bancos e a indústria do álcool. A Tatuzinho (fabricante da Velho Barreiro) refinanciou R$ 218 milhões em impostos vencidos. Ambev, Heineken e Cervejaria Petrópolis tiveram, na média, um desconto próximo à metade dos débitos. Não surpreendem as relações da indústria de bebidas alcoólicas com o poder público. Nas eleições presidenciais de 2014 isso ficou muito claro: a Ambev foi a quarta maior doadora da campanha de Aécio Neves (PSDB), a 6ª maior de Dilma Rousseff (PT) e a 5ª maior entre os candidatos à Câmara dos Deputados. (...) Faço essas considerações para comentar o absoluto silêncio da indústria sobre os efeitos do álcool na sociedade, principalmente entre os jovens. (...) A indústria gosta de difundir a mensagem do "consumo inteligente"" ou ""moderado"" de suas bebidas. Mas nada fala sobre os 10% de consumidores para os quais beber com moderação ou inteligência é simplesmente impossível, como ocorre com os portadores da doença do alcoolismo. Nadando em dinheiro, é de se perguntar as razões dessas empresas precisarem do Refis para acertar as contas com o governo. Essa voracidade nos negócios não tem contrapartida igual nas ações para reduzir os efeitos da doença do alcoolismo, prejudicando o futuro de milhões de jovens. Paulo Leme Filho é advogado, escritor e fundador do movimento Vale a Pena"